Colunista
Franco G. Rovedo

12.08.14
Maldição da beleza

Ela adormeceu depois de uma madrugada de conversa sobre nossas vidas. Os travesseiros emparelhados suportavam os sonhos dela e também meus pensamentos sobre sua beleza encantadora.

Diz um ditado que a felicidade se aproxima de quem sorri, mas no caso dela é um pouco diferente. Quem está próximo do seu sorriso é tomado pela felicidade.

Talvez seja por não ser um sorriso qualquer. Não mostra os dentes e abre os lábios apenas. Ele é muito mais significativo e tão complexo que não se pode desenhar ou retratar. É a prova que a elegância e inteligência se expressam também através de sutilezas daquela boca.

Quando a vejo sorrir, sinto uma tranquilidade que pouca coisa é capaz de me proporcionar. Nem os mares calmos que já cruzei e nem as nuvens em que já voei me transmitiram a sensação de paz que aqueles lábios se abrindo discretamente me trazem.

Uma grande beleza sem dúvida, mas que ofuscava muitas outras qualidades e trazia expectativas, por vezes, pouco realistas.

Seus pais exigiam muito mais dela do que da irmã, uma vez que associavam sua beleza a outras habilidades impertinentes. Seus amigos associavam aquela alegria e otimismo com um sucesso financeiro. Poucos conheciam as duras escolhas que fizeram sua vida não ser tão fácil de ser vivida como poderia ser. Sem dúvida, se ela tivesse se dobrado às convenções, não precisaria trabalhar.

Para piorar, poucos homens tinham a coragem de se aproximar dela por uma série de preconceitos que uma mulher tão bonita atrai para si. Alguns bons candidatos não se achavam a altura de tanta beleza e nem tentavam uma aproximação. Outros a viam como um troféu a ser conquistado e exibido em público, sendo que a maioria não dava a atenção devida, confundindo a perfeição dos seus traços com uma força que nem sempre estava lá.

Seja por covardia dos homens, por injustiça dos pais ou por erro de julgamento baseado em aspecto físico, ela havia sofrido a maldição da beleza. Uma bênção e ambição para muitas mulheres, mas que para ela havia proporcionado sofrimento.

Havia sido preterida quando mais precisava, e a dor que ninguém vê a tomava eventualmente.

Um sofrimento do qual queria assegurar a ela que jamais seria por minha causa, pois amava seu modo de ser, sua coragem e sua elegância.

Sua beleza era só um item a mais em uma série de qualidades que sempre desejei em uma mulher e que agora enfeitava minha madrugada e o nascer do sol.

Já de minha parte, tenho que sofrer com outra maldição... Sua eventual ausência.

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