Colunista
Andrea Greca Krueger

19.08.13
Divino erro

Mês passado participei como palestrante de alguns eventos para jovens empreendedores. Na verdade, o público era um tipo específico e moderno de empresário, conhecido como “startuper”. Termo popular no mundo atual dos negócios, startup é todo projeto inovador que pode ser escalonado sem inflar custos de produção. Fala-se delas pois algumas das transações financeiras mais alardeadas dos últimos tempos envolveram empresas com essas características, como, por exemplo, a compra do Instagram (uma startup) pelo Facebook (valor do negócio: 1 bilhão de dólares) e do Tumblr (outra startup) pelo Yahoo! (1,1 bilhão de dólares). Trocando em miúdos, startup é uma empresa pequena que vende produtos ou serviços que podem ser multiplicados e vendidos quase ad infinitum sem que seja necessário aumentar custos internos, como a temida folha de pagamento. Por isso, o mercado de aplicativos (apps) é o melhor exemplo de startup. Um app pode ser vendido um milhão de vezes sem que a equipe desenvolvedora precise aumentar na mesma proporção – o que, na verdade, seria até impossível. No início do ano, o Yahoo!, no afã de reforçar serviços para plataformas móveis, comprou o app Summly, um agregador de notícias inventado por um jovem britânico de 17 anos dois anos antes. Quando fechou o negócio, as sete pessoas da equipe foram imediatamente contratadas pelo Yahoo! como desenvolvedores. Vale destacar que o Summly foi escolhido pela Apple em 2012 como um dos melhores apps do ano. Vender uma startup a um grande grupo por milhões é o que move a maioria dos jovens startupers, mas o fato é que não é tão fácil quanto parece. Segundo a Forbes, três em cada quatro startups fecham depois de um ano e 55% deixam de existir depois do quinto ano.

Em um dos eventos, minha missão era falar sobre os benefícios que um bom projeto de pesquisa de mercado e análise de tendências pode fazer por qualquer novo negócio, diminuindo riscos, combatendo a imprevisibilidade e deixando-o, portanto, de fora das estatísticas desanimadoras da Forbes.  Caprichei na apresentação, recheei com técnicas, exemplos, dicas e bibliografia. Como de costume, me coloquei no lugar da audiência e dei-lhes o que eu gostaria de receber naquela situação. Evito falar de mim ou da Berlin em palestras. Tenho cá para mim que quando sou convidada para palestrar minha missão é compartilhar conteúdo útil para quem vai ouvir, e isso certamente não inclui fazer propaganda da minha empresa. Tem funcionado. Pois bem, chegando lá senti estar entre um grande grupo de destemidos sonhadores e fiquei confortável para compartilhar a responsabilidade de condução da conversa. Curiosos, entre uma tendência e outra, perguntaram sobre a trajetória da empresa, como foi no início e como é hoje – ainda estamos no começo, mas após quatro anos o pior (a ansiedade de saber se o negócio tem futuro) felizmente já passou. Com sinceridade, falei das dificuldades e vitórias, das portas fechadas e contratos assinados, dos erros e acertos. Dos “nãos”, dos “sims”, das noites sem dormir e dos dias de alívio também. Contei, entre outras coisas, que nos dois primeiros anos dei aulas de inglês de manhã e à noite para bancar a empresa, onde passava as tardes. Sim, disse-lhes, foram dois anos de jornada tripla. Diante dos “aiiii”s, “putz”s e “sériooos?”, sugeri que mantenham a humildade, pois vão precisar dela. E se não têm, pois que vão buscar.

Esse dia me fez refletir. As histórias de sucesso no mundo dos negócios – sejam startups ou empresas tradicionais – têm elementos em comum. No fabuloso livro The Tipping Point – O Ponto de Virada, Malcom Gladwell fala que uma das características que todos os empreendedores de sucesso têm é o carisma. A Harvard Business Review deste mês apresenta matrizes matemáticas, gráficos, flechas e fórmulas demonstrando como faz para desenvolver empatia e influenciar as pessoas. Como se fosse álgebra, como se fosse algo que se aprende. Bobagem. Para mim, as novas empresas que escaparão das estatísticas catastróficas da Forbes são dirigidas por jovens pés no chão, obstinados, focados, que observam atentamente o mundo e veem em cada guinada uma oportunidade. Aposto que eles não têm medo de errar e não deixam o orgulho, o imediatismo e a preguiça dominar o meio de campo.  Para isso, a geração “eu-eu-eu” estampada recentemente na capa da Time precisa olhar mais para o entorno e menos para o umbigo e ter a consciência de que o acerto é humano e o erro, esse sim, é divino.

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