Eu nunca quis ser uma pessoa ligada a datas, um dia marcado para ficar alegre, outro determinado a ficar triste, a data certa para viajar com a família... Sempre fui uma pessoa fora de época; até a passagem do milênio ainda não celebrei, porque costumo celebrar mesmo é cada novo dia.
E agora, esta história de réveillon fora de época! Pra mim é mais uma data para me engessar. Desde já me declaro a favor de fazer o réveillon fora de época, do fora de época.
Fora de época é o “paver” que quer ser o fora de época do petitpave, fora de época, doravante f.d.e, é a ponte estaiada e não a trincheira; é o twitter que pra mim não é mais que um exercício para o mal de Parkinson.
A galocha sempre foi fora de época assim como é o “politicamente correto”, o chapéu coco e o monóculo. F.d.e são as “embaixadoras” de franquias. As músicas em capela para campanhas políticas. Os partidos novos que acenam para uma nova maneira de governar. F.d.e é o custo exorbitante do metro quadrado de construção em Curitiba.
Curitiba “deslusou” imitando São Paulo, que é totalmente f.d.e.
F.d.e é o photoshop em lugar da fotografia colorida a pincel. F.d.e são os binários dessa religião do automóvel que está prestes a criar mão única nas calçadas.
F.d.e é toda tecnologia que nos afasta do contato humano, da convivência e da diversidade. F.d.e é comercial de automóvel que nos mostra como ele é possante e destruidor.
F.d.e. é o automóvel que será o cigarro do futuro. F.d.e é casar de paraquedas, debaixo d’água, tudo aquilo que transforma o amor em esporte radical, como se já não o fosse.
F.d.e são os simpósios de marketing com as fotografias dos palestrantes, todos engravatados com olhar vencedor. F.d.e é o CEO, o “trainee” novos apelidos, para chefe e estagiário. F.d.e é o personal trainer, o personal stylist, o personal cook; o personal investor; e o personal personal.
F.d.e é a sigla, tudo que encurta, mas não explica. F.d.e é a substituição do palpiteiro por advipor, e do conhecimento por consultoria. F.d.e é querer substituir as instituições democráticas pelas demonstrações de rua.
Fora de época, constato que:
Quero voltar anos atrás,
e não tenho força para alcançar aquela fotografia
daquela paisagem, daquela viagem
não tenho imagem
daquela história, daquela glória
nem mesmo memória
daquele ato
não tenho fato
daquele prato
nem mesmo o olfato
daquela frase
daquele dia
daquele cheiro
daquele som...
e no entanto me lembro
era tão bom!
Assim mesmo, fora de época, quero desejar a vocês um Feliz Natal e próspero Ano Novo (f.d.e)!