Tabacaria dois

Sinto-me agora como aquele que defronte olhava a Tabacaria.
Um nada sem sonhos do mundo, vazio sem me sentir gênio
Um nada que não pretende ser tudo
Tudo que não tenho é o que agora possuo
Sem forças para acenar adeuses
Descrente de deuses
Sou agora o sentimento de querer ser outro para não me ser
Mas sou nada.
Não posso querer ser outro senão o que agora sou e não tenho nenhum a parte
Parei de acender cigarros, falhei, como ele, em tudo
Tudo ou nada não sei o que sou neste instante que não existe
Sou uma tentativa de ser o que não sou neste momento, não sou Álvaro, não sou Pessoa
Sendo isso, aí sim, nunca serei nada. Além deste tudo que preenche meu vazio.
Discordo por um instante, sempre serei nada, afinal falho em tudo.
Falhei de novo, por mais quantas vezes?
(Ele me olha, mesmo debaixo, por cima, finjo que não o vejo para não ter-lhe que falar,
Para não ter que com ele faltar um respeito que não me é próprio.
Há coisas que não respeito
Não respeito nada.
Me considero um gênio, que falha em tudo, portanto, um gênio
Isto que posso ser neste momento
Uma mentira própria do meu ser, uma mentira que mente para o próprio eu e se deixa
[enganar ao mesmo tempo)
Não há dono de tabacarias, não há Fernando Pessoa, nem Caetano Veloso para gritar “fui eu”
Há eu e mais ninguém
Eu e minha derrota
Eu e minha falta de vontade
Meu nada
E minha repetição
Este autoconvencimento descarado
O erro ortográfico
O erro da vida
O ponto que não passa pela tangente
Sou o eu, o meu, o me e o mim
E nunca serei nada além disso.
A derrota da vida.