Economia
03.09.2015
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03.09.2015
03.09.15
O enfraquecimento da economia do interior
por Gilmar Mendes Lourenço

Indiscutivelmente o Brasil está muito bem servido de estatísticas relativas ao acompanhamento da evolução do mercado de trabalho. As abrangentes investigações domiciliares, feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), propiciam visões gerais e regionalizadas do curso das variáveis determinantes da dinâmica do panorama de ocupações nacional.
No caso do IBGE, o pulso da utilização de mão de obra é medido em duas frentes. A primeira,mais recente, que inclusive compensa a natureza de parcialidade regional contida nos esforços das demais pesquisas, corresponde à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua – aquela mesma que os senadores Armando Monteiro Neto e Gleisi Hoffmann tentaram retardar o começo da divulgação, em 2014, por razões pouco convincentes -, de periodicidade mensal. Dela originam-se dados de desemprego e rendimento médio real(deduzida a inflação) do trabalho, retroativos a 2012 e fruto de coletas mensais em 211.344 domicílios particulares permanentes, em 16 mil localidades de 3.500 municípios, incluindo 20 regiões metropolitanas (Rms)e todas as capitais.
A segunda incursão, mais antiga, efetuada desde 1980, é representada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que mensura remunerações reais dos empregados e desemprego aberto (30 dias de procura, para população com mais de dez anos) em seis espaços metropolitanos (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre).
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), levada a cabo pela Seade/Dieese, desde 1985, na região metropolitana de São Paulo, municípios do ABC paulista, em mais cinco áreas metropolitanas (Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife e Salvador) e Distrito Federal, apura, dentre outros itens, a renda média real do contingente empregado e o desemprego aberto, representado pelas pessoas desocupadas, com mais de 10 anos de idade, que buscaram trabalho nos trinta dias que antecederam o inquérito, além da desocupação oculta, caracterizada pelo exercício de função precária (bico) ou por desalento (desistência da ação de busca por trabalho).
Vale alertar que a determinação dos agregados para o conjunto das Rms ficou praticamente inviabilizada, a partir do segundo semestre de 2014, por conta da descontinuidade do levantamento das informações primárias para o DF e a área de Belo Horizonte.
Há também os registros administrativos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), obtidos por meio de informações diretas, fornecidas pelas empresas, por determinação legal, que permitem avaliar a curva do emprego com carteira assinada, para o total do País, estados e algumas Rms, com desagregação setorial.
Um exame atento dos indicadores recentes possibilita apreender, pela PNAD Contínua, a subida do desemprego de 6,5% da população economicamente ativa (PEA), no último trimestre de 2014, para 8,1% da PEA, no trimestre compreendido entre março e maio de 2015. Embora tenha permanecido estável, na mesma base de cotejo, a remuneração média do trabalho declinou -0,7%, entre janeiro-março e março-maio de 2015, passando de R$ 1.877/mês para R$ 1.863/mês.
Na mesma linha, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, captura, na média dos redutos metropolitanos de Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, uma trajetória de impulsão do desemprego e queda dos rendimentos. A taxa de desocupação saltou de 4,8% da PEA, em 2014, para 6,1% da PEA, entre janeiro e junho de 2015. Enquanto isso, a renda real do pessoal ocupado, ao atingir 2.149,00, em junho de 2015, expõe decréscimo de -2,9% frente ao mesmo mês de 2014.
Considerando que a PNAD Contínua possui envergadura nacional e a PME reflete parte da dinâmica metropolitana, o confronto entre os resultados de ambas oportuniza a formulação da pressuposição de que o quadro de instabilidade, vivido presentemente pela economia nacional, vem atingindo de maneira mais contundente as bases econômicas operantes no interior do País, fenômeno reproduzido em desemprego maior e renda menor.
Por certo, a rota cadente do ciclo de negócios é generalizada, praticamente não poupando ramos de atividades ou localidades. Aliás, é interessante assinalar que estágios de instabilidade do capitalismo reservam reduzidas frações para o funcionamento de “ilhas de prosperidade” em meio a fortes tempestades oceânicas.
Nessa perspectiva, a metrópole vem acusando, de maneira direta, a perda de embalo dos eixos de crescimento, sustentados no consumo privado e movidos à disponibilidade de crédito, geração de empregos com registro em carteira e acréscimo da massa de salários, esta referenciada aos ganhos reais do salário mínimo.
Prova disso é o fechamento líquido de 345,4 mil postos de trabalho formais, nas nove Rms (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), observadas pelo Caged, no primeiro semestre de 2015, equivalendo a 84,0% dos desligamentos líquidos experimentados pela nação. Os segmentos mais afetados pela radical reversão da direção de pleno emprego, verificada a partir do segundo trimestre de 2014, foram fabricação de bens de capital e de consumo duráveis, construção civil, comércio e serviços.
De seu turno, os centros econômicos mais afastados da atmosfera metropolitana também sentiram a rápida conformação e intensificação dessas condições adversas, agravadas por dois grupos de elementos específicos, sintetizados na diminuição da corrente de renda da cadeia produtiva articulada ao agronegócio e na retração dos investimentos, notadamente em infraestrutura.
A performance menos animadora do complexo rural, apesar do acréscimo de 6,7% do volume de produção das lavouras temporárias e permanentes, projetado pelo IBGE para 2015, pode ser imputada essencialmente ao recuo das cotações internacionais das commodities agrícolas, estimado em -16%, em relação a 2014, pelo Deagro, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com as diminuições mais acentuadas experimentadas por soja (-22,2%), trigo (-16,4%) e milho (-10,0%).
A par disso, a compressão do vetor infraestrutural está intimamente atrelada ao expressivo decréscimo das obras destinadas à ampliação da capacidade e melhoria da eficiência da oferta de energia, comunicações, armazenagem e logística de transportes, subordinadas, em grande medida, às iniciativas e disponibilidade de verbas do setor público e de uma teia de construtoras e empreiteiras a ele vinculada, envolvida em incontáveis episódios de corrupção, em criteriosa apuração pela Polícia Federal e outras instâncias institucionais. Sem contar os efeitos da ingerência governamental no setor elétrico e a interferência negativa do ajuste recessivo, em implementação pelo Ministério da Fazenda.

 

Gilmar Mendes Lourenço, Economista, Professor e Editor da Revista Vitrine da Conjuntura da FAE Business School.


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