Colunista
Claudia Wasilewski

11.02.15
Polaquices
Foto: Reprodução/site panoramio.com

Com licença que vou falar da minha essência. Embora tenha uma ascendência diversificada, uma mistura italiana, espanhola e do Leste Europeu, certamente a polaca é a que se aflora mais fortemente. O curioso é que não conheci meus avós paternos, meu pai morreu quando eu tinha 10 anos e tive convívio escasso com a família dele. Mas o tempo todo percebo que repito atitudes, tomo iniciativas e dedico meu tempo com coisas que a geração mais velha da família sempre fez. Arrisco a dizer que está no meu DNA. E se fui adotada e não me contaram é uma imensa coincidência.

Vou pular a parte do polaco e polonês. Não existe desrespeito. Não tenho mais paciência de explicar e me dá até preguiça. Vamos para a autoanálise.

Polaco cozinha bem. E acha ótimo o que cozinha. Elogia a própria comida. Como assim? Oferece a geleia. Diz que fez e afirma que é uma delícia. Sem falsa modéstia. Come! Come muito bem.

Ninguém definiu tão bem o perfil culinário dos polacos quanto meu querido primo Rafael de Oliveira Osinski. “Para um polaco fazer uma nega maluca, entra na cozinha, pica um monte de alho e cebola. Frita. Faz fumaça e aquela delícia de cheiro. Pronto. Aí pode começar a fazer o bolo.” Achei sensacional. Sempre existe uma forma de incluir uma fritada. Nem que seja somente para perfumar a casa.

Tenho uma teoria para as festas de polacos durarem três dias. Polaco não cozinha no diminutivo. Sempre existe exagero, mas é pecado mortal o desperdício. Afinal a Polônia pereceu, foi destruída e reconstruída como mostra a história. Tempos em que um frango foi motivo de disputa e pancadaria. Tristes tempos de guerra. Voltando à festa... Já que tem comemoração, tem que ter muita comida. Fechado nas emoções é preciso demonstrar carinho cozinhando. O exagero corre solto. Panelões, tigelões, potões. Vai sobrar? Claro que ninguém faria esse pouco caso. Então vamos longe. O famoso “repique”. Esquentamos a comida. Modificamos a aparência. Reciclamos. E o festejo vai longe. Em tempos de vida sustentável somos exemplo.

Não espere entrar em um velório com choro compulsivo, gritaria e gente se descabelando. A tristeza tem o limite de um lencinho. Polaco aguenta firme o tranco e a dor. Sofre sozinho. Mas a raiva é inversamente proporcional à tristeza. Não se meta a besta com um polaco. Não seja ingrato, não provoque, não engane, não minta para ele. O troco vem. Opa! Pode demorar. Mas senso de justiça bate forte e certamente quem sacaneou está sendo observado. Aqui vai meu conselho: não entre para minha black list. E se a vida se encarregar de fazer a justiça por outros meios, não espere que um polaco se comova ou tenha pena de seu desafeto. Achará muito boa a ré e irá comemorar. Se possível com bom e velho amigo foguete. Por mais politicamente incorreto que sejam os foguetórios.

Polaco ama presentear. Nada caro ou elaborado. Ninguém sai de estômago vazio de uma casa polaca. Ninguém sai sem um potinho do que comer. Leva ainda uma mudinha de planta ou paninho de crochê. Um livro ou revista embaixo do braço.

É nisso que me reconheço tão polaca. Sigo os “bons” exemplos que tive das minhas amadas tias Helena e Manucha. Do meu tio Vadeco, que era animado, engraçado, feliz e tinha olhos de céu azul de geada. O humor ácido de meu pai. Quanta saudade. Quanto aprendizado sobre honestidade e trabalho duro.

Fevereiro é mês de festa na minha família. Arrisco em dizer que 70% dela faz aniversário. Fica meu desejo de “zdrówie”! Saúde! Felicidade para todos.

P.S: Como dizia meu primo João Wasilewski Neto, não existe Wasilewski bonzinho. #ficaadica

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