Colunista
Tisa Kastrup

06.01.14
Churrasco é coisa para macho

Outro dia envaretei de fazer um churrasco com uma amiga e descobri da pior maneira possível que foram os homens que nasceram para esse papel. Não sei como eles aguentam ficar de babá da carne e do fogo, enfrentando aquele calor senegalês que cozinha o braço, o “vira-desvira” interminável, o fumacê entrando nos olhos e no cabelo, a mão toda suja de carvão e a cerveja teimando em esquentar. Fazer churrasco é, definitivamente, um ato heroico de extrema bravura.

O primeiro e único churrasco que fiz até que ficou “comível”, mas levei uma surra de 40 minutos para acender o fogo. Mesmo usando aquela gosminha alcoólica cor de rosa choque que ajuda um monte, tive que jogar álcool (devidamente colocado num copo e a dois metros de distância que é para não explodir no meu rosto), embeber papel toalha com azeite, assoprar a churrasqueira e abanar com revista, levantando poeira de carvão e cinzas para todos os lados. Depois me contaram mais alguns truques, tais como embeber um pãozinho velho em álcool e usar um – pasmem! – secador de cabelos para atiçar o fogo. Mas nem que a vaca tussa e saia mugindo e correndo do espeto eu empresto o meu secador de cabelos para ser impregnado de fuligem e cheiro de banha de linguiça numa churrasqueira!

Sem pinça para pescar o carvão do saco, minhas unhas ficaram em petição de miséria e encardiram de um jeito que nem escovinha com detergente tirou. Resultado: tive que cortá-las “no sabugo”. Até quando você espirra dois dias depois, continua saindo um tijolo de carvão do seu nariz! A pobre coitada da minha amiga, sorteada com a limpeza da grelha, também perdeu suas unhas. Para meu espanto, a dica de como proteger suas unhas de um churrasco não veio do mundo feminino, mas sim de um homem. Ele contou que basta arranhar as unhas em um sabonete antes de manusear o carvão. Só não pode coçar a fumaça dos olhos com as unhas besuntadas de sabonete senão vai arder até o Afeganistão! Segundo ele, esse truque bem meigo serve também para lidar com a terra no jardim.

Quando finalmente você consegue fazer o fogo “pegar”, é aquele calor que cozinha sua alma, te assa junto com a carne, te desidrata, te empapa de suor, faz escorrer toda a sua maquiagem e dá uma sede tão indescritível que só mesmo uma cerveja gelada para aplacar. Mas a dita cuja insiste em esquentar, pousada ali do lado do “Inferno de Dante” em que a churrasqueira se transforma depois que a linguiça começa a pingar gordura na brasa.

E não adianta nada a churrasqueira estar no meio do jardim, com o vento soprando, pois isso não refresca em nada o calor. A mocinha da figura, por exemplo, está a sotavento da churrasqueira, por isso toda a fumaça vai nela. Se estivesse a barlavento, tudo mudaria de figura. Mas aí precisa, além de um churrasqueiro, um marinheiro de plantão para ajudar.

Também descobri que achar o meu próprio “ponto G” é muito mais fácil que achar o ponto de cocção da carne. Ninguém me avisou “antes” que a carne assa 90% de um lado e 10% do outro e que só se vira a carne com a finalidade de dourar o outro lado. Uma alma masculina fez a caridade de me contar isso somente “depois” que eu me queixei do “vira-desvira interminável”. Muito agradecida, amigo! Eu também não tinha a mais pálida ideia que cada churrasqueira tem sua velocidade de cocção dependendo do tamanho da boca, da profundidade do depósito de carvão e da capacidade de exaustão. E descobri que existem carvões piratas e batizados que não acendem nem embebidos em gasolina de aviação!

Depois dessa experiência, juro que vou reverenciar eternamente cada macho que eu encontrar em frente a uma churrasqueira. Prometo não me queixar do ponto da carne e, por falar em carne, doravante só farei na panela de pressão, bem tampadinha!

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