Colunista
Tisa Kastrup

12.08.14
Belle Époque x Bela Copa

Em 1900 teve lugar em Paris a Exposição Mundial, realizada para exaltar as conquistas do século anterior e exibir as modernidades que o próximo século estava trazendo para toda a humanidade. Durante os sete meses em que ocorreu, a cidade recebeu a bagatela de 51 milhões de visitantes nos mais de 112 hectares que a exposição ocupou nos dois lados do Sena, entre o Campo de Marte e o Trocadéro, além de seu anexo com 104 hectares no Bosque de Vincennes, integralmente dedicado à agricultura e à indústria automobilística. O anexo do Bosque de Vincennes também sediou os Jogos Olímpicos de 1900, que aconteceram durante a exposição e acabaram por ficar em segundo plano, dado o sucesso alcançado pela Expo 1900, pois a cultura atraiu mais visitantes que o esporte.

As principais atrações da exposição eram os novos meios de transporte e inovadoras obras de mobilidade urbana, como uma esteira rolante denominada “Rua do Futuro”, e a primeira linha de metrô de Paris – que ia da Porte de Vincennes até a Porte Maillot e foi inaugurada para a exposição. Na área de mobilidade também foram entregues as novas estações de trem de Orsay (hoje transformada no Musée D’Orsay), dos Invalides e a estação Lyon, uma fonte luminosa e o uso pela primeira vez da eletricidade para iluminar os ambientes externos e que vieram, anos depois, a emprestar o apelido de “Cidade-luz” a Paris. A área de entretenimento foi marcada pela projeção dos primeiros filmes dos irmãos Lumière, que recém haviam inventado o cinematógrafo.

Presente do tsar russo Nicolas II, que começou sua construção em 1896, a maravilhosa Ponte Alexandre III integrava o conjunto arquitetônico formado pelo Petit Palaise o Grand Palais. Finamente iluminada por uma série de 32 candelabros de bronze e costeada por quatro estátuas representando as Ninfas do Sena (França) e as Ninfas de Néva (Rússia), a Ponte Alexandre III compõe parte do “legado” (eita palavrinha que me deixa nervosa ultimamente) daquele evento cultural, comercial, científico, tecnológico e turístico que também deixou a Torre Eiffel como lembrança (iam desmontar ao final da exposição de 1889, mas felizmente desistiram).

Como o nosso MON, o Petit Palais é um museu vivo, mutante, sempre com uma nova atração (ou várias) além do seu acervo normal. Estive em Paris durante a Copa e desta vez o Petit Palais estava justamente mostrando como era a Paris de 1900. Moda, arquitetura, arte, esculturas, pinturas, móveis, objetos de decoração, cinema, automóveis, azulejos, estações de metrô, cartazes, publicidade. Enfim, tudo o que pudesse nos transportar àquela Belle Époque – que a Primeira Guerra Mundial encerrou drasticamente em 1914 – estava exposto ali dentro. Muito linda e interessante, valeu a visita. Mas acabei trazendo na minha bagagem uma incômoda pulga atrás da orelha.

Enquanto Paris ficou com a Torre Eiffel, o Petit e o Grand Palais, uma rede de metrô, três estações de trem, e a Ponte Alexandre III – dentre outros legados das vezes em que sediou a exposição universal, “tóisfiquemocuma ponte abestaiada”! E cada um ficou com o legado à altura dos horizontes e das mentes dos seus governantes à época. Então, por caridade, não me falem mais as palavras Copa e legado. Nunguentomaisouvirisso!

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