Colunista
Marisa Villela

14.09.12
Ao sabor do vento

Homem algum jamais saberá qual é o prazer de andar sem calcinhas. Andar livremente, com a saia a esvoaçar pelas pernas, ao sabor do vento como diz o lugar-comum. Quem já teve um elástico apertado nos glúteos sabe bem o transtorno que é. E nada mais constrangedor que puxá-lo por cima da roupa, escondido do público ao redor (e todo mundo vê).

Sempre gostei de ficar sem calcinhas. Não é de hoje que elas me incomodam, me abafam e tolhem meus movimentos. Há quem durma sem sutiã pelos mesmos motivos. Eu tiro ambos. É bem gostoso dormir sem as amarras das calcinhas, pernas soltas, abertas, prontas para novas investidas.

Já fiz outras. Foi uma felicidade ir ao supermercado, andar de ônibus, fazer as unhas no shopping e comparecer a uma reunião de trabalho sem as malditas. Sempre me diverti muitíssimo nessas ocasiões. Na reunião de trabalho, por exemplo, a primeira satisfação foi constatar que ninguém, nenhum daqueles homens e mulheres que discutiam assuntos sérios sabiam que me faltavam as calcinhas. Uma travessura sem igual na minha vida adulta.

O segundo momento de prazer foi quando alguém muito próximo usou a mão para, sorrateiramente, medir os meus quadris. E não a encontrou! A surpresa foi tanta, tanta, que ele rapidamente tirou a mão. E me olhou com ares assustados. “Sem calcinhas?”

Sim, senhor. Elas não me fazem falta. Sinto-me desembaraçada , independente e pronta para as aventuras que se anunciam quando a ausência é explicita. Sem calcinhas a vida é facilitada. Os corpos sabem o que fazem quando se encontram, não é mesmo? Então, por que tirar a liberdade com esse aposto sem serventia a não ser de atrasar a ação?

A favor das calcinhas, existem alguns argumentos que refuto. “Há fluidos”, dizem. Sim, mas eles só acontecem quando estou focada naquele que me rodeia. A umidade significa interesse, vontade, afrodisia salutar. Que atire a primeira pedra o homem que não foi feliz ao tocar o triângulo úmido de uma mulher.

O velho ditado de que “o ato do amor precisa ter uma calcinha para tirar” só serve para os românticos inseguros, que querem ganhar tempo no despir a fim de adiar o que é preciso fazer. Prefiro aqueles que tiram às pressas, sem cuidado, sem reparar nas rendinhas e que jogam todas as roupas em qualquer chão. Um item a menos para se livrar, com certeza, não fará falta a ninguém.

“Falta de recato, licenciosidade, má conduta a caminho”. Tem certeza que é má? Não considero ruim estar disponível para a tentação. Ao contrário. Estar pronta para o assalto amoroso é condição imprescindível para qualquer mulher. Que aconteça a qualquer hora, em qualquer lugar, no ponto do ônibus noturno, sentada em uma cadeira de trabalho ou no banheiro da repartição.

Sem calcinhas a vida fica mais fácil. E incomparavelmente mais interessante.










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