Colunista
Marisa Villela

05.12.12
À la carte

Para a comida e o sexo não há lugares proibidos. Há, sim, espaços reservados como os bons restaurantes destinam aos fregueses prediletos. Para estes, quase sempre se ajeita um ambiente longe dos olhos do público, mesmo que a casa já tenha sido requisitada por outros comensais.

O bom freguês é aquele que sabe distinguir o tempero único da comida servida. E dá alegria ao cozinheiro, já que percebe as sutilezas da boa mesa. Uma pitada de canela ou um naco de damasco faz muita diferença num prato frugal.

Aliás, tenho particular predileção pelos homens que sabem cozinhar com esmero, que gostam de experimentar novos sabores e não se chocam com combinações inusitadas e pouco ortodoxas. Sofro com o trivial variado, o arroz-e-feijão, os apelos saudáveis de pouca gordura, pouco sal, comida sonsa e quase nada de prazer.

O fato é que o meu paladar está diretamente ligado ao exercício do sexo. Tenho por princípio fugir dos homens que declaram não gostar de cebola ou alho. Também corro daqueles que só comem com intuito de se alimentar e “manter a saúde”. De que vale ter saúde sem nenhum deleite?

Cada mordida denuncia a sensualidade ou a falta dela. Adoro ver um pretendente (ao amor ou sexo, tanto faz) comendo qualquer coisa. Se for uma fruta ou uma carne suculenta, cujo sumo escorre pelo vão dos dedos e ele lambe...Uau! Este é o cara!

Igualmente aos bons restaurantes, sirvo a carta da casa. O cardápio é variado e bem ao gosto do freguês. Basta fazer o pedido. Melhor: é permitido invadir a cozinha e inventar pratos novos, acrescentar ingredientes ou condimentar com o que mais tiver vontade.

Sou essencialmente oral. A minha felicidade começa na boca. Só rejeito a nouvelle cousine, cujas porções são limitadíssimas e repressoras do prazer. Quando faço regime, perco a libido. Parar de fumar também causa a mesma tragédia. E o contrário é verdadeiro: se fico ansiosa, como e engulo tudo – doce, salgado, ácido, amargo. Em qualquer ordem, em qualquer quantidade. Até saciar as fomes – as duas.

Sabores novos me fazem uma farrista incorrigível. Com certeza, adoraria ser convidada para um divertido rodízio de carnes, com a variedade e fartura de uma alegre churrascaria de beira de estrada.

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