Colunista
Marisa Villela

06.03.13
Museu do adeus

É muito difícil dizer adeus a um grande e arrebatador amor, daqueles que se pensava ser duradouro e para sempre. Mas tem coisa pior além de encarar a ruptura: decidir o que fazer com a tralha que ficou para trás.

Se você é quem resolve encerrar a relação amorosa, pode dizer como na música, “junte tudo que é seu e saia do meu caminho”. Se o ex-amado levar mais do que devia, vem aquela história de “devolva o Neruda que você me levou”, “isso é meu”, “não mexa aí”, e outras frases próprias à difícil arte da separação.

Mas, se é o outro quem decide ir embora, dividir os pertences amorosos é mais doloroso. Entre lágrimas e ranger de dentes, ter que sumir com o que sobrou é outro sofrimento.

Histórias não faltam. Soube de uma senhora que devolveu os objetos da intimidade do casal na mesa de um restaurante, onde o ex-marido jantava com amigos. Eu costumo apagar tudo do computador e rasgo o que for físico - fotografias, bilhetes, cartões, fitas e embalagens de flores. O destino é o lixo, bem picadinho, ou queimado na lareira. Só me arrependo de ter devolvido alguns livros, bons livros. Mas na hora da raiva, vai tudo no embrulho.

Apesar do incêndio, das roupas doadas aos pobres e do lixo que não é lixo, a gente sempre guarda bem escondido uma coisinha dos tempos da felicidade um dia sentida. Descobri que existe na Europa o Museum of Broken Relationships, cujo acervo é formado por essas coisas que muito significaram aos apaixonados do mundo inteiro, das Filipinas à Argentina, da Croácia ao Japão, passando pela Noruega e Inglaterra. O Museu promete cuidar da sua relíquia sentimental. Há dezenas de sutiãs, calcinhas e lingerie de todos os tipos, ursinhos com dizeres “I Love you”, e muitas bobagens que os enamorados se presenteiam. Mas há também objetos inusitados como algemas acolchoadas de vermelho, porta-retratos feito de palitos de fósforo e estatueta de cavalo.

Tem até um anãozinho de jardim. Consta que foi atropelado pelo carro do sujeito quando ele, soberbamente, saía da garagem para nunca mais voltar. E também uma tigela, cujo ex-marido a presenteou para que “fizesse pão para ele”. Enquanto ela ficava amassando e sovando pra lá e pra cá, esperando a massa crescer e assar, o danado se divertia com outra.

Mas o que mais gostei foi um machado vindo da Alemanha. Sim, um afiado machado, daqueles que se usam nos filmes de terror e ótimos para assassinar o parceiro traidor. Diz que a senhora precisou viajar a trabalho, e o cônjuge “que não suportaria ficar só”, não aguentou mesmo e arranjou outra. Depois avisou que voltaria buscar tudo que havia adquirido durante o longo casamento. Ela, então, diligentemente destruiu com o machado todos os móveis e objetos deixados para trás. Embalou os pedaços em caixas, anotando os conteúdos: mesa, cadeiras, poltrona de leitura, a torradeira, livros, porta-retratos e tudo mais. E os entregou assim. Não é sensacional?

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