Colunista
Ana Figueiredo

02.09.13
Para sempre

A grande ironia do universo é que a vida passa mais rápido do que nos damos conta, acaba num piscar de olhos e mesmo assim vivemos cheios de “para sempre.” Ouvi em algum lugar que o “para sempre, sempre acaba”, sorte a nossa. Para o mundo não há diferença entre a vida toda ou uma folha caindo numa tarde de abril, mas somos abençoados com uma ignorância que nos faz crer que somos mais que um grão de areia no meio do universo. O que me intriga é que na nossa tão medíocre existência não há algo que não seja eterno. Nenhuma lágrima volta e não há nada que desfaça um riso que foi dado. Contamos a vida pelo tempo, mas insisto que deveria ser ao contrário. Contamos os dias ou os anos, mas por que não contar o tempo pelo que sentimos ou pelo que vivemos? Seriam as 24 horas divididas em alguns pensamentos bons, e muitos ruins. Talvez a vida devesse ser contada por abraços dados, quão jovens seríamos se contássemos apenas os que foram sinceros? Tudo fica gravado na nossa eternidade, por mais que se queira apagar, esconder e esquecer, não há volta pro que já houve. O passado espreita nas noites frias e as más lembranças insistem em se agarrar ao espírito, o presente assombrado pelo que já se foi. Não há algo que se tatue mais em nós do que o tempo. Alguns têm em suas vidas marcas tão negras e terrivelmente profundas que não entendo os que se assustam com um pouco de tinta na pele. Como se a alma pudesse se emporcalhar na lama enquanto o corpo deve se mostrar livre de qualquer mácula. Se de todos os “para sempre” esse acaba sendo só mais um, pra que tanta hipocrisia? É o para sempre que se mostra ao mundo, e que amedronta quem tem medo de si mesmo: do que é ou já foi. O temor do para sempre que chega amanhã. Pode ser que eu me arrependa de tudo, da tatuagem, desse texto ou do bolo de chocolate que estou comendo agora. Não tem volta, a tinta não sai da pele e nem do papel, e esses pensamentos jamais deixaram de ser parte de quem fui. Não há nada que já não tenha sido. Na nossa tão efêmera eternidade, “tudo é por que não há não ser”.

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