Colunista
Andrea Greca Krueger

04.06.13
Sweatshops

1.127 é o número de mortos no desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, cujas imagens horripilantes você deve ter visto na TV no início de maio. O desastre matou quase cinco vezes mais gente que a tragédia na boate Kiss. Provavelmente, você também ouviu falar que as pessoas que trabalhavam no Rana Plaza, onde funcionavam outras cinco confecções, ganhavam, em média, 38 dólares por mês para cumprir jornadas diárias que podiam chegar a vinte horas, sob condições insuportáveis para qualquer ser humano. Sujeira, superlotação, pouca ventilação, trabalho escravo, mão de obra infantil e pressão por resultados fazem parte desse modus operandi dos infernos que a sociedade do consumismo em massa adotou para dar conta de atingir seu principal propósito: o lucro a qualquer custo. O que talvez você não saiba, é que esse “método”, que explora mão de obra oprimida em países pobres com população vulnerável, é antigo. O cenário de toda a ação tem até nome: é nas sweatshops que a barbaridade acontece.

Os primeiros registros sobre sweatshops – um termo pejorativo –vêm da Inglaterra dos anos 1850, pós-revolução industrial. Naquela época, com o início da produção em massa, começavam a circular em Londres notícias sobre lugares úmidos e escuros, onde homens e mulheres costuravam em regime quase escravo na companhia de ratos e sob perigo iminente de incêndios e infestações de pragas. Com a ascensão dos sindicatos e das leis trabalhistas, o fato veio à tona e o movimento perdeu força na Europa e nos Estados Unidos. Faz tempo desde o século 19, mas a verdade é que pouco mudou desde então. Tirando a localização, que migrou principalmente para o Oriente (mas, atenção, o Brasil está no meio), o processo é o mesmo. Indivíduos desesperados servem a voraz indústria da indumentária, que ganha fortunas e paga migalhas.

A realidade é que, se pararmos para refletir, os 76 reais que os trabalhadores de Bangladesh recebem por mês de Zara, GAP, Nike, H&M e cia. rendem quase nada em um passeio por essas mesmas lojas. Não tem como fugir de uma analogia à cadeia alimentar, onde o maior (e mais forte) engole o menor (e mais fraco). Mas seria isso parte da natureza? Somos assim tão maus? O que difere o ser humano dos demais animais, dizem, é que temos rituais de passagem e a consciência. Não agimos, portanto, movidos apenas por instintos primitivos – mas isso não melhora em nada a situação.

Apesar de racional, o ser humano é bicho teimoso que aprende mais pela dor do que pelo amor. E é bem por isso que a maior tragédia da história da indústria deixa, além de perplexidade e luto, pelo menos uma pequena chama de esperança. Poucos dias após a queda, os principais grupos têxteis, cujas operações funcionam nas mais de 4.500 fábricas do país, anunciaram apoio a um plano de segurança nas sweatshops, ops, nos locais de trabalho. Num acordo inédito com os sindicatos internacionais IndustriALL e UNI Global Union, Zara e H&M foram as primeiras e se posicionar a favor da “elaboração e da implementação de um programa de inspeção de segurança que seja crível e efetivo”.Finalmente. Segundo a organização não-governamental Clean Clothes Campaign (simpatizantes da causa podem acompanhar a discussão em: facebook.com/CleanClothesCampaign e #StopDeadlyFashion), GAP e Walmart ainda não se posicionaram.
Estamos de olho.










TAMBÉM NOS ENCONTRAMOS AQUI: