Colunista
Armando de Souza Santana Junior

03.09.15
Notícias do mundo de lá
Imagem: Reprodução/site xxmidnight-eyesxx.deviantart.com

Esta noite estou demorando pra dormir. Estou pensando se há alguma forma de ir para o meu mundo. Aquele onde deveria estar morando, pois desembarquei neste por acidente, assim mesmo, por acidente. Tive a sorte de ter por aqui, um papai e uma mamãe que me amam muito e às vezes me fazem esquecer o mundo de lá. Também os amo muito, mas sei que os faço sofrer demais por ser da maneira que sou, diferente, de me comportar como no mundo de lá. Eles procuraram médicos, psicólogos e pedagogos para me ajudar na adaptação desse mundo tão diferente do meu. Receberam em troca um monte de remédios e tratamentos que pouco fazem efeito, mas faço tudo o que me pedem para fazê-los felizes. Nesse ponto sou disciplinado, pois é o mínimo que faço por meus pais que tanta paciência tem comigo. Eles não sabem que sou de outro mundo e não deste a que eles pertencem. Por exemplo, no meu mundo não tem dinheiro e nem gente que machuca crianças. Adoramos ficar olhando a lua cheia por muito tempo e não só por alguns minutos. Adoramos viver pulando as ondas do mar enquanto o sol nos ilumina. Lá, comemos e bebemos o quanto queremos e dançamos, pulamos e cantamos até cansar sem que ninguém fique brigando com a gente. Lá é só brincadeira. Aqui não, tudo tem tempo marcado pra acabar e logo. Não gostamos muito quando nos abraçam, mas gostamos de abraçar a quem amamos e aí abraçamos forte, muito forte. É assim no meu mundo. Já as pessoas desse mundo são nervosas, gritam muito, brigam o tempo todo e isso me faz muito mal, pois acabo perdendo a paciência que no meu mundo é muito curta com quem briga com a gente e então fico agitado e aí me dão remédios que me causam sono, como agora. Bom, preciso acordar cedo amanhã, pois o ônibus escolar vem me apanhar muito cedo. Gosto do colégio que estou agora, lá descobri que tem gente do meu mundo que também estão nesse mundo por engano ou acidente, como eu. Lá, amamos a natureza o dia todo e o que eles chamam de “professores” que nos adaptam a este mundo, eu chamo de “adaptadores”. De todos os colégios, esse é o que melhor conseguiu me fazer lembrar do meu mundo. Preciso de notícias do mundo de lá, saber como posso voltar. Agora estou quase dormindo, quem sabe eu amanheça com asas iguais a dos pássaros e possa voar livremente de volta para o meu mundo. Chegando lá dou um jeito de trazer papai e mamãe, pois sem eles não sei se conseguiria ser feliz.

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