Colunista
Armando de Souza Santana Junior

10.10.12
A despedida de Andy

Não foi por Lord Byron, nem por Stendhal e muito menos por Fernando Pessoa que me inspirei a escrever sobre despedida. Foi simplesmente por Andy, o dono do Xerife Woody e do Buzz Lightyear em Toy Story III. Nunca me senti tão tocado em uma despedida como naquela cena final de Andy brincando pela última vez com seus adoráveis brinquedos que embalaram suas fantasias de criança antes de se despedir em definitivo da infância e ir para a universidade, para a vida adulta, repassando a uma nova criança o encargo de cuidar de seus queridos e inseparáveis “amigos”. Lembrei então de muitas despedidas que fizera ao longo desse meio século que se foi. A começar, tal qual Andy, pela minha infância, também dos meus brinquedos favoritos, dos rios e dos igarapés do Pará, dos meus avós, das escolas que frequentava, dos amigos de rua que comigo brincavam e dos primos e primas que nunca mais vi quando parti sem, no entanto, ouvir a tão adorada canção de Toy Story... Amigo estou aqui... Amigo estou aqui.

Falar de despedida pode parecer piegas já que tanto se cantou em prosa e verso sobre saudade, e saudade a gente só sente quando a despedida é de algo muito bom. Quem fala de saudade fala de uma despedida doída, de uma ausência que causa angústia e nostalgia, dor e o amortecimento das vontades. O resto não é despedida e sim um abandono do tempo, pois nunca nos despedimos do que é ruim porque simplesmente desprezamos o que nos causa dor.

A lembrança mais forte de uma despedida data da década de sessenta quando meu pai avisou à família que íamos embora para sempre da cidade em que nascemos em direção ao Sul do País. Éramos apenas crianças e aquilo soou como uma condenação ao desterro. Como deixar para trás nossos amigos? E os nossos primos de quem gozávamos uma intensa relação de brincadeiras? E os meus brinquedos? Vai dar para levar todos? Não? E como vai ser nossa vida lá no Sul? Nossa casa vai ser igual aquela dos quadrinhos americanos? Cerca baixa e gramadinho verde? Tem neve? Posso fazer um boneco de neve papai? Tantas angústias naquela despedida... Tantas perguntas e expectativas que no dia da partida não dormi uma só hora. 

Não foram poucas às vezes em que me senti angustiado por ter que deixar algo bom para trás tantas foram as despedidas. É como nos conta o poeta Athaíde Lemos: “A dor da despedida é uma dor desmedida que sempre permanece contida e jamais é esquecida”. Assim é que ao longo da vida nos despedimos até sem querer de tantas coisas boas, tantos momentos bons, tantos amigos queridos e de tantos e tantos bons e maus amores que nos provocaram dores que nos tiraram as cores de todas as nossas flores.

Nesse mau caminho sem retorno, nos restam aqueles de quem nunca deveríamos voluntariamente nos despedir nessa ou noutra vida por vir. Sim, jamais de nossos filhos amados e também dos poucos, fiéis e queridos amigos que nos sobraram para ombrear a caminhada nessa trilha temporal por muitas vezes perigosa, mas muitas outras prazerosas.

Pensando bem, quero mesmo é sentir a presença de um amigo querido, ouvir e cantar docemente sempre que uma despedida me despedaça: “Amigo estou aqui... Amigo estou aqui...Se a fase é ruim e são tantos problemas que não tem fim...Não se esqueça que ouviu de mim...Amigo estou aqui... Amigo estou aqui”.










TAMBÉM NOS ENCONTRAMOS AQUI: