Colunista
Armando de Souza Santana Junior

17.12.12
Sempre alerta!

Quem hoje em dia quer ser um escoteiro? Pois quando garoto eu tinha o sonho de ser um escoteiro. Sempre alerta! Adorava esse lema do escotismo no Brasil em referência ao Be Prepared do inglês Robert Baden-Powell, criador do Escotismo, um movimento educacional mundial com a proposta de formar o jovem com valores como honra, altruísmo, lealdade, fraternidade, respeito e disciplina, hoje em completo desuso pelas novas gerações virtuais.

 Ao ver um escoteiro, ficava eu imaginando um mundo de aventuras nos acampamentos da tropa, nos salvamentos de pessoas em perigo e nos incríveis desbravamentos em territórios inóspitos. Para mim os escoteiros eram pequenos heróis, uma espécie de soldados com um chapéu bonito, um lenço em volta do pescoço,  carregando um cantil e uma faca pendurados no cinto. Para completar era assíduo leitor das aventuras dos sobrinhos do Pato Donald e do Tio Patinhas, Huguinho, Zezinho e Luizinho que eram bravos escoteiros. Eles resolviam todas as emergências com os ensinamentos do infalível Manual dos Escoteiros (e ele existe!). Era uma delícia e meu sonho era ter um manual daqueles. Que inveja! Perdi o número de vezes em que pedi ao meu pai para ser um escoteiro e nem me lembro de quantas vezes ele prometeu que ia tornar isso uma realidade. Embora nunca tenha sido um deles, me sentia  como se fosse o último boy scout da Terra. No fundo queria apenas materializar o sonho de ser um herói e a década de sessenta, de fato, era uma época de heróis.

Essas reminiscências do passado vieram à tona quando li a triste notícia de que a organização norte-americana de escoteiros Boy Scouts of America divulgou documentos sobre uma série de denúncias de abusos sexuais contra suas crianças. O dossiê contém material indicando que líderes de escoteiros, policiais, promotores e prefeitos esconderam a publicação de acusações sobre pedofilia. Os documentos se referem a 1.247 casos ocorridos entre 1959 e 1971.

Em texto, publicado no site do grupo, a informação é sobre a existência de um arquivo, do período de 1965 a 1985, que reúne informações sobre “pessoas que não cumprem as normas” do Boy Scouts of America. Os detalhes das denúncias foram mantidos em sigilo, então imaginem as barbaridades ali contidas, como bem diz o curitibano.

O presidente do Boy Scouts of America, Wayne Perry, em manifestação comedida, disse que houve situações nas quais as pessoas “abusaram de suas posições no escotismo” para explorar crianças. Ele, de forma condenável, apenas pediu “desculpas” pelos episódios, lembrando a posição e as atitudes da Igreja Católica sobre seus padres e bispos pedófilos. Pedir desculpas não repara a monstruosidade de se abusar de crianças praticadas por degenerados.

Então fico contente que meu pai tenha acertado ao errar. Naquela época ainda mais tolerante, a posição dos pedófilos e abusadores de toda espécie que exerciam liderança entre infantes eram inquestionáveis. A criança sempre foi compelida a obedecer cegamente os mais velhos e a calar-se diante do adulto dominador. A máxima sem dúvida é essa:  onde existe um núcleo de crianças reunidas, lá estará o pedófilo, o pervertido. Ele se transformará em padre ou pastor, em professor, em treinador de equipes infantis de qualquer modalidade, em guia de acampamentos de férias, em líder dos escoteiros e assim por diante. Ele quer estar junto a crianças, alvo de suas depravações. Mais do que nunca se pode gritar o lema escoteiro SEMPRE ALERTA! Só que agora um alerta aos pais, para que não entreguem facilmente e sem controle suas crianças a adultos nem sempre confiáveis. Eu, livre do horror que devastou muitas vidas, ficarei apenas com o meu sonho de criança de ser o último boy scout.










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