Colunista
Fábio Campana

06.01.14
O futebol e a desrazão

Gosto de futebol. Gosto do Atlético Paranaense. Torço. Mas não faço parte de torcida organizada. Não suporto a malta, a corja, a súcia, essa coisa de bárbaros que emergem das cavernas.

Nada a ver com o esporte. As torcidas organizadas fazem o seu próprio espetáculo e muito pouco veem do jogo. Vão ao estádio para tentar exercer um papel que não tem nada a ver com a disputa no campo. Querem ser atores e se comportam como animais para chamar a atenção dos demais espectadores. A ideia de que sua atuação pode influenciar no resultado da partida é canhestra, de um primarismo recolhido na horda.

Não interessa o clube. A torcida organizada atrai naturalmente o que há de pior, os pobres de espírito, idiotas, débeis mentais, os fracos e oprimidos que só conseguem adquirir identidade quando se transformam em massa.

Umberto Eco odeia os fanáticos do futebol porque os vê como corifeus do nacionalismo ecumênico, como “criaturas tão convencidas da igualdade entre os homens que são capazes de quebrar a cabeça do fanático da província limítrofe”. Convencidos da universalidade de seu particularismo, distribuem murros nos que estão no mundo exatamente como eles, só que do lado contrário.

Eco descobre no fanático do futebol, esse ser emblemático da pós-modernidade, um apóstolo da homogeneidade absoluta do discurso, um ponta de lança da igualdade ao rés da chuteira. “Não tem sequer a noção de diversidade, variedade e incompatibilidade dos mundos possíveis.”

O crítico norte-americano Frederic Jameson suspeita que a passagem do período moderno para o pós-moderno significou a substituição da alienação do sujeito pela fragmentação do sujeito. Sustenta que esta fragmentação é, na verdade, o resultado de uma recusa de se comprometer com o presente, ou, mais precisamente, de pensá-lo historicamente. A recusa de pensar o presente como história é também a incapacidade de reter o passado ou a tentativa desesperada de viver a história como o eterno presente.

Jameson está preocupado com a incapacidade subjetiva de apreensão do sentido do que aparece fragmentado. A fragmentação do sujeito e de sua vida corresponde a uma integração cega e cada vez mais abstrata das forças objetivas da sociedade. A transnacionalização dos mercados e da produção, dos estilos de vida e de consumo, da linguagem e da estética, esta é a vitória do pós-moderno e a derrota da subjetividade, como a pensavam Hegel e os outros arautos da modernidade.

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