Colunista
Fábio Campana

07.01.15
Tísica
Foto: Divulgação

Maquiavel conta os estragos da tísica, doença mortal daqueles tempos renascentistas, que os médicos costumavam enfrentar quando já era tarde demais. Ao que tudo indica, o Brasil padece de tísica, mas não tem maiores chances que os doentes contemporâneos do secretário florentino. Por aqui não há maioria disposta a mudar o rumo desta pátria mãe a dormir tão distraída enquanto é subtraída aos bilhões dos cofres públicos.

De certa maneira, as coisas pioraram. Antigamente os brasileiros acreditavam ser cidadãos do País do Futuro. Hoje, temos de nos convencer que habitamos um país à beira da falência, de crescimento pífio, condenado à estagnação.

A circunavegação que devolve o governo, quatro anos depois, para a mesma Dilma Rousseff e a caterva de Lula e seus assemelhados, tem um certo sabor patético. Há fortes razões para se supor que neste momento o Brasil precipite crise adentro.

Perdoem o tom realista que pode conter boa dose do pessimismo que me assalta hoje. Se o presente é sombrio, o futuro promete as trevas mais espessas. Mas a presidente rebelde ao léxico resume a sua clamorosa inadequação ao posto que ocupa e ao momento que vive, ao apontar a inflação como único motivo de sua preocupação. Ah, e não esquecer das benesses sociais que lhe garantem a vitória eleitoral para seu partido e seu guia, o ex-presidente Lula.

O resto, como se sabe, é um mar de rosas no entendimento de Dilma, Lula e a esquerda funcionária. Nesta granítica incapacidade de penetrar a complexidade da crise para atingir-lhe a origem e a essência, a primeira mandatária é soberbamente representativa de uma corrente de pensadores nativos dispostos a jurar que tudo vai bem, no melhor dos mundos.

Dilma Rousseff poupa-se de grandes dissabores. Se conseguisse alcançar o olho do ciclone descobriria sua própria impetuosa mediocridade. Talvez não seja ela o mais perfeito exemplar da incompetência verde-amarela, mas é a presidente, a chefe do governo, quer dizer, do desgoverno.

De resto, o debate em torno da exata localização da fronteira do desastre, pior que acadêmico, é grotesco, porque nada, absolutamente nada indica, por parte do governo e dos partidos, condições – vontade e talento – de enfrentar a situação com chances mínimas de êxito. Até porque, antes de ser econômica, a crise é política, e tem raízes autoritárias não extirpadas, e se adensa nas hipocrisias e nos equívocos de um populismo primitivo e primário, com a agravante Rousseff.

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