Colunista
Fábio Campana

13.11.12
Enfim, só

Alegria, irmãos. Não há sinais da turba. Silenciaram os detestáveis ruídos das eleições. Não há comícios. Nem carros de som, nem jingles idiotas. Desapareceu a propaganda política no rádio e na televisão. Enfim, sinto-me só. Livre dos chatos eleitorais.

As calçadas estão limpas. Sumiram os cavaletes e a fuça dos candidatos. Já não corremos o risco de uma abordagem a bombordo, outra a estibordo, de candidatos e de torcedores de candidatos.

Sinto pelos profissionais que ficarão sem trabalho até a próxima eleição. Anões de aluguel, noivas de fachada, heróis de fancaria, filósofos de latrina, atores fracassados, bebês coadjuvantes, cheerleaders histéricas, representantes das minorias, padres e pastores a soldo, ciclistas de passeata e a malta de marqueteiros, publicitários, analistas, pesquisadores, ghost writers e assessores de todo tipo e catadura.

Aleluia. Podemos voltar ao nicho de civilização sem medo da invasão dos bárbaros. Alívio para os fartos do festival de asneiras, preconceitos, moralismo chinfrim, agressividade vazia e debates marcados pela intolerância e pela mediocridade.

Qualquer pessoa sem ânimo político de torcedor de futebol e com algum senso crítico admite que a política nunca desceu a padrão tão deplorável como nas eleições deste ano. Provas? Examinem a folha corrida e o discurso dos candidatos. Todos. Um por um. Dos eleitos e não eleitos. Uma lástima. Seria cruel demais compará-los com os políticos de gerações anteriores. Mas, como diria um sábio paroquial, é o que temos.

De dois em dois anos as eleições nos lembram que a absoluta maioria da população está imersa no breu da ignorância e é presa fácil dos políticos nativos que se mostram, quase todos, dotados de uma ambição de mando, uma sede de poder absolutamente desproporcionais ao seu preparo para governar.

Mais entristecedor é constatar que não poderia ser diferente. Quem elege esses políticos é gente que não sabe o que é o mundo além de seu bairro e da sua igreja, que acredita piamente na palavra do primeiro pregador que lhe prometa mais que o reino dos céus, a felicidade imediata pela inscrição no bolsa família ou no programa minha casa, minha vida.

Estadistas? Piada. Nesta área do planeta, a política é jogo bruto. Dominado por sentimentos e paixões que se podem chamar de negativos: o ressentimento, a mágoa, a inveja, o orgulho ferido. As grandes palavras, as ideias, os altos propósitos patrióticos ou impatrióticos servem para mover e até arrebatar partidários e admiradores que entram em cena com a esperança de garantir uma sinecura, uma prebenda, uma vantagem qualquer extraída do erário.

O que anima chefes e chefetes políticos são motivos pessoais nem sempre assim tão grandes ou estimáveis. Agora, eles encerram a pantomima, descem do palco e voltam à sua atividade rotineira, secreta, longe dos olhos do público. Uma vez ou outra se desentendem e algo vem à luz, como vimos nesse escândalo do Mensalão.

Mas não percam as esperanças. Sou otimista. Ainda teremos um jogo político menos bruto, mais limpo, mais guiado pela razão que pelas emoções baratas produzidas pelo espetáculo das campanhas eleitorais. Talvez não estejamos aqui. Talvez leve cem ou duzentos anos. Mas devemos acreditar na evolução da espécie nativa.

Acredito que ainda será vitorioso o impulso libertário, essência das aspirações de nosso tempo, que procura reafirmar a liberdade e os direitos do cidadão diante da máquina do Estado, que a inspiração patrimonialista e tecnocrática tornou grande demais e opressiva, quando não opressora, e que tutela o sistema de escolha a partir do controle da massa de miseráveis.

Como dizia Leibnitz e agora a horda instalada nos palácios, tudo está bem, no melhor dos mundos possíveis. Frase que levou o francês François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, a escrever dois ou três de seus melhores livros. Prefiro Voltaire.

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