Colunista
Antonio Augusto Figueiredo Basto

11.07.13
Aonde vocês vão meninos?

“Aonde vocês vão jovens, vão protestar contra algum abuso do poder? Ofenderam a necessidade de verdade e equidade que ainda arde em vossas almas, ignorantes das acomodações políticas e das covardias cotidianas da vida? Vão corrigir o erro social, por o protesto de vossa vibrante juventude na balança desigual em que são falsamente pesadas a sorte dos felizes e a dos deserdados deste mundo? Vão vaiar, para defender a tolerância e a independência da raça humana, algum sectário da inteligência, de cérebro curto, que quis reconduzir ao erro antigo vossos espíritos livres, proclamando a bancarrota da ciência? Vão clamar, sob a janela de alguma personalidade esquiva e hipócrita, vossa fé invencível no futuro, neste século próximo que promete e deve realizar a paz no mundo em nome da justiça e do amor?”

 

Assim Émile Zola iniciou “Carta à Juventude”, em 14 de dezembro de 1897, que compõe o “J’accuse” (Eu acuso). Em 2013, a intelligentsia tupiniquim, na iminência de ser devorada por sua degradação moral e intelectual, tenta decifrar o enigma que ecoa das ruas: – “o brado retumbante” que rompeu com o mórbido servilismo de “porteiro de hotel”, manifestando soberano desprezo por partidos e políticos e repudiando líderes que se identifiquem com o establishment. Uma prova de coragem e independência de jovens livres e sem amos que não acreditam que homens ou mulheres que estão no governo tenham qualidades superiores para governar os destinos da nação.

São demasiados e óbvios os adjetivos morais que colorem o rosto de nossos meninos e meninas, inspirando sua ira generosa e santa que os empurra ao bom combate. Todos estão cansados dessa camarilha, sempre no cio. Poder e dinheiro não saciam seu útero fértil em parir corrupção e malfeitos: – acredito que entre quatro paredes até as esposas, amantes, prostitutas caras, filhos, filhas, netos e apadrinhados não os suportam mais, nem os corruptores que os financiam têm prazer em sua companhia. Ninguém simpatiza com político no Brasil. E não pode ser diferente: – sempre envoltos com projetos de poder, incapazes, esquivos, hipócritas sem escrúpulos. Homens e mulheres de vintém, uma pilantragem rasteira que saiu dos esgotos para transformar as instituições em balcão de negócios e influência.

Esses políticos, todos eleitos, não deixam de ser reflexo da população ou de boa parte dela. Não adianta dizer: “Vocês não me representam”. Também não se pode acreditar que o Estado seja responsável pela felicidade das pessoas, não é, e não pode ser. Assumir a responsabilidade pelos destinos do País exige a assunção de responsabilidades individuais que muita gente não tem e não quer ter. No Brasil, não é só o governo que pratica o mal, tem muita gente gritando com a dor de barriga alheia que não se envergonha de suas malfeitorias. A vocação ancestral para o funcionalismo, um Estado assistencialista e pagador das contas, também precisa ser banida, sob pena de se criar um número cada vez maior de pessoas dependentes sustentadas pelo trabalho alheio.

É preciso direcionar o discurso das ruas para projetos concretos e razoáveis. Por incrível que possa parecer, as coisas podem piorar. Multidões por acreditarem em qualquer coisa e serem capazes de tudo são manipuláveis, basta que o primeiro aventureiro lance de mão da demagogia para dominá-las. A energia difusa e abstrata das ruas vai desencadear o advento dos “novos messias”. Nascidos em berços famélicos ou abastados, eles virão como o flautista da fábula, seduzindo e arrastando todos com um discurso de ocasião moldado aos justos interesses do povo, dispostos a qualquer sacrifício em nome da causa popular. Não acreditem nessa gente, ela irá subverter a ordem democrática e todos sentirão saudades dos tempos atuais.

Não percam o rumo meninos, vocês não podem esquecer os sofrimentos de seus antepassados na luta pela estabilidade democrática, as terríveis batalhas para conquistar a liberdade que eles desfrutam. Se podem ir e vir, se a imprensa pode ter opinião e exprimi-la, é por que gerações anteriores deram sangue e inteligência para isso. Sua indignação não pode obscurecer a inteligência e romper a garantia dos laços sociais ao ponto de crer que nada pode conter seus desígnios e que não existe Estado ou privilégios civis. Recusar a péssima gestão do País sem renunciar o respeito pelas instituições é um desafio tão grande quanto alcançar as mudanças sociais desejadas. 

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