Colunista
Luiz Geraldo Mazza

17.09.14
Iara, o reencontro

Eu te vejo como água

nunca em copo de cristal

posto que tudo lembre

um pouco da tua calma

e do frescor que cinge teu ser,

ainda mais se ao vidro se junta

o rorejar das pedras que suam.

Contemplo a água misteriosa

que desce a escarpa e mapas não acusam

e ágil constrói seus próprios vales,

minúsculos rios navegados de fantasia

e banha o verde-musgo que lhe assume

por instantes a variedade cromática.

Da horizontalidade condenada

tua ânsia de liberdade, insólita,

faz o impossível: projeta-se em vertical

numa reversão do abismo.

Sorvo esta linfa que constrói seu leito

no lajeado, na rocha esculpida

pela suave torrente num infinito bambuzal:

com as mãos em concha te bebo com unção

ou me debruço para molhar a fronte,

mergulhar a boca, os olhos, tudo,

afogar-me, enfim, em tantos sortilégios.

Quem me dá de beber e em mim permanece,

que me dá abluções e dessa forma me renova

e me faz outro, original, batizado e retemperado,

lúcido de bem-estar é quem me nutre e quem me lava.

Como Narciso me descubro, a imagem flutuando

numa das curvas do regato e sofro a dureza

da condenação: a de que sorvo, não sou sorvido

e a de que bebo, não sou bebido.

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