Colunista
Luiz Geraldo Mazza

07.08.12
Predicados morais

Sempre se constituiu em péssimo exercício político o de qualquer afirmação moral. É que se um político do porte de um brigadeiro Eduardo Gomes poderia usá-lo sem constrangimento, o mesmo não se pode dizer da curriola que o acompanhava. É o que se dava com a UDN de grandes nomes como os de Pedro Aleixo, Adauto Lúcio Cardoso, Djalma Maranhão, mas que não blindava o partido para esse tipo de pregação. Esse moralismo a outrance teve um epílogo forte aqui no Paraná com o udenista Haroldo Leon Perez, obrigado a demitir-se quando o apanharam tentando dobrar o empresário Cecílio do Rego Almeida em manobra suspeitíssima.
A classe política de hoje então, sem aqueles predicados referidos e volta e meia envolvida em corrupção, seja entre mensaleiros ou acertos com Carlinhos Cachoeira, não tem a menor condição de suscitar moralismos. Nepotistas, por exemplo, como Roberto Requião, não poderiam jamais ousar falar em austeridade quando apanhados nessa vulgar prática do nosso patrimonialismo. Também se pode dizer que Beto Richa, ainda que em menor escala, o acompanha na prática atroz.

A pretexto de querer aprofundar a dificuldade do ajuste entre Gustavo Fruet e o PT por causa da atuação marcante do parlamentar na CPI do Mensalão, feito que só pode orgulhar os paranaenses tanto na atuação dele como na de Omar Serraglio, fazem a cobrança de “coerência”. É como se o político prensado pela ditadura partidária, primeiro do PMDB e depois do PSDB, onde estava longe de ter o prestígio do presidente da Câmara Municipal, o Derosso, ligadíssimo ao poder e dele ejetado em ritual singelo, depois de 15 anos de amarra com o time, tivesse outras alternativas quando convidado pelos petistas.

COERÊNCIA MERIDIANA 
Coerência solar, meridiana, é a de Marcelo Araújo, secretário de Trânsito de Curitiba, com centenas de pontos na carteira de habilitação e que teve ao menos a honestidade de referir-se ao pecadilho quando o prefeito Luciano Ducci o convidou e assim mesmo tolerou o fato, não imaginando os riscos eleitorais que poderiam daí advir. Como é que se pode admitir que um doutrinador do porte de Araújo em matéria de trânsito, incumbido de zelar pela seriedade de um setor constantemente acusado de praticar a usinagem da multa em escala siderúrgica, tivesse tais restrições. No Direito Romano havia a “capitis diminutio”, que era uma redução de poderes das pessoas em razão da função que exerciam e dos desvios cometidos. Alegando que suas multas ficavam suspensas por força dos seus recursos, e a situação portanto era juridicamente correta, ocultava ou subestimava a questão do papel educativo que exercia. Jurídica e moralmente impedido, tinha a sua capitis diminutio revelada.

Mas a regra tem sido essa: a da tolerância com os abusos, como se deu com o caso paradigmático de Ezequias Moreira, aquele que drenava para a sua conta os régios salários da sogra-fantasma do Legislativo, e que foi premiado por Beto Richa primeiro como prefeito como seu chefe de gabinete e depois elevando-o à condição de diretor de relações com o mercado na Sanepar e podendo, de repente, assumir até a sua presidência interina.

Soma-se a tudo isso outro fato edificante: a designação de Cassio Taniguchi para a secretaria de Planejamento, para a qual, aliás, detém todas as condições mormente com a pobreza de quadros da atualidade. Ocorre que Cassio foi condenado em decisão do STF, em duas demandas, a seis meses, em cada, de prisão, beneficiado pela prescrição. Ora esse valor jurídico, ao que se saiba, não tem o poder de transformar ficha suja em limpa.

E esse pessoal ainda fala em coerência. A coerência com o desvio, a anomalia, não é um princípio moral do qual se possa orgulhar.










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