Colunista
Luiz Geraldo Mazza

05.12.12
Cadê o toucinho daqui?

Dentre as brincadeiras de infância – passa anel, pedrinha do céu, amarelinha – havia uma em que se declamava “cadê o toucinho daqui?” Seguia-se um teatro jogral com as respostas: “o gato comeu!” seguida de nova pergunta “afinal cadê o gato?”. Aí a explicação: o gato foi pro mato, o mato pegou fogo, a água para apagá-lo o boi bebeu, o boi ficou amassando trigo e o trigo, essa bíblica necessidade, a galinha comeu e a reticência prossegue com a ave botando ovos e assim por diante e o padre se deliciando com a omelete.

É o que se poderia perguntar ao governo que em menos de dois anos já fez nove empréstimos e agora engatou um de R$ 2,7 bilhões em cima do compromisso de pagar três folhas do funcionalismo do final de novembro a 20 de dezembro, o que soma bem mais que R$ 3 bi, embora a liderança alegue que a destinação desses recursos não é para custeio e sim de investimentos que beneficiará inclusive governos futuros.

Prodigalidade no DNA

Como não pode ocultar e dissimular as dificuldades – e já fez isso ao mostrar que gasta bem mais do que arrecada na voz do secretário Luis Carlos Hauly – se viu ainda impelido a bloquear, via liderança do Legislativo, sanitariamente as emendas parlamentares, talvez até para inibir os mais ousados. Emenda de deputado é o alpiste do canarinho: para cantar bem ele carece da comidinha. Amuado, o canarinho sofre; o deputado acha impossível sobreviver como o ministro da Justiça prefere morrer a ir para a prisão.

Tudo isso contrasta com o clima de lua de mel perceptível no cenário interno do governo no qual há filtros contra as sombras das derrotas eleitorais. Uma distinção entre Requião e Beto Richa (apesar das afinidades no nepotismo) é a de que o primeiro negava tudo, apertava, e esse se torna aberto à negociação comprando um edifício para o Judiciário e quase emplacando a de um hotel de luxo para sediar a Procuradoria Geral do Estado e sempre, apesar da crise, buscando sair-se bem das negociações como o conciliador sorridente.

Austeridade indesejada

Da mesma forma que Dilma Rousseff, a presidente, se torna refém da emergência do IPI nos automóveis e se desespera com a hipótese incontornável, de hoje ou amanhã, aumentar os combustíveis no repique tsunâmico da inflação, vai ser obrigado a um ato de austeridade e impopular: cobrar a ParanaPrevidência dos aposentados, o que lhe será desastroso em termos eleitorais. Vai também em cima das concessionárias do pedágio para ampliar bases fiscais altamente abaladas cobrando-lhes uma taxa, embora mantenha o tom pacífico em relação aos contratos leoninos, mas de eficácia incontestável, o que desmoraliza as tais CPIs que buscam realimentar para fazer aquilo que um lutador de sumô não conseguiu com o brado de “baixa ou acaba” e que foi abatido no tatame.

O governo teve tempo de sobra para mostrar a herança que recebeu (hoje alguns dos seus técnicos atribuem ao antecessor as deformações persistentes) e o fez pelo seu Chefe da Casa Civil, hoje conselheiro do Tribunal de Contas, Durval Amaral, numa arenga respondida por dois twitters de Requião como se um tiro de chumbo perdigoto fosse uma bomba atômica. Como estamos num ciclo de referências ornitológicas lembremo-nos daquele “passarinho na muda não canta” ou ainda aquele outro do Stanislaw Ponte Preta “para quem gosta de jiló, urubu é colibri”.

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