Comportamento
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04.05.15
Não entre nessa madrugada com brandura
por Daniel Zanella

As casas de prostituição de Curitiba e Região Metropolitana: histórias de desamor, solidão, afetos e nomes entre Noites da Xoxoteca

Foto: Divulgação

Quarta-feira não é a melhor escolha para ir ao Scorpion’s Bar, pequena casa às margens da Rodovia do Xisto, em Araucária. “Não sei o motivo, mas as meninas faltam mais nas quartas”, diz Angela, gerente do lugar e programa mais caro do estabelecimento: R$ 250, sem anal.

Entre uma panificadora e uma autoelétrica, o Scorpion’s em nada lembra o glamour das grandes casas de diversão de Curitiba, mas tem lá um certo charme, como três peculiares escorpiões pintados nas paredes esverdeadas, dois sofás de couro um pouco surrados, um balcão de madeira que range e Adriana, uma bela morena de vestido vermelho e que nunca usa calcinha.

Somos em sete homens, cinco minutos antes de dar duas da madrugada. A casa, desfalcada, está com apenas três mulheres. Isso não é bom. “Vamos fechar cedo hoje”, completa Angela, enquanto um entregador de pizza morde a bunda de Adriana – ela pede para que ele pare, entre risadinhas e pulinhos. Todo mundo ama Adriana; é sempre assim, desde a primeira vez que a vi, há pouco mais de seis meses.

Fundado há dois anos, o Scorpion’s se vale do bom networking de sua gerente, que angariou na vizinhança quase todas as moças do local – dez, nos melhores dias. Segundo ela, algumas mulheres, quando se divorciam, acabam ficando sem opção para trabalhar. Elas encontram nas casas um lugar mais acolhedor, dinheiro rápido para pagar as contas e uma fuga emocional para o que deu errado – sexo pago reconforta. Mudam-se posteriormente para trabalhar sempre bem longe de onde moram.

Bianca, por exemplo, foi casada por sete anos. Há três trabalha nas casas da região. Estranha ter de fazer sexo anal quase todo dia. “Com o meu marido, era uma vez na vida, outra na morte. Ele não gostava muito.”

Meu amigo Guilherme pergunta se podemos ir a outra casa. Bianca acaba de ir ao quarto com o motoqueiro, converso com Adriana enquanto termino minha cerveja de quinze reais e só resta a gerente, que acaba de bocejar. Os amigos querem ir ao mítico Estrela Azul. Adriana quer uma dose: R$ 35. Not today. (É que Bianca está fazendo cursinho de inglês e sempre acha divertido quando falo pequenas coisas estrangeiras.)

 

* * *

 

Nem só de poluição, crise na Refinaria Getúlio Vargas e inúmeras distribuidoras de combustível vive a região da cidade industrial de Araucária. Ali, entre a Rodovia do Xisto e a Avenida das Araucárias, está o Estrela Azul, a mais famosa casa da cidade, conhecida por importantes festas temáticas, como a Noite da Xoxoteca.

A entrada da casa é inesquecível. Numa subida de terra algo off-road, com estacionamento embaixo das árvores e uma sacada muito curiosa na entrada. Diferentemente do Scorpion’s, há uma vasta oferta de mulheres, de todos os tipos: conto doze para seis homens, sendo um deles o segurança. Três loiras estão sentadas em um dos cinco sofás. Quando uma delas nos vê, beija o pescoço da amiga e sorri pra gente, o que de fato muito nos entusiasma.

Toca Amado Batista, a iluminação é baixa, uma torre de pole dance à esquerda, três globos de espelho no teto e aos fundos o bar-balcão: lá fica Andressa, a proprietária, e Eliana, uma bela loira de 27 anos, não 31, como especulei, algo como uma auxiliar, pois só atende quando está com vontade, tanto que usa calças em diversos dias. Ao cumprimentar-nos (eu, Guilherme, Antonio e Cesar) pergunta se pode me abraçar. Imediatamente digo que quero conhecê-la melhor.

“Então me conheça”, diz, me olhando firme.

 

* * *

 

Se houver uma eleição para o melhor custo-benefício das casas de Curitiba & Região, certamente a Casa da Débora, ali pertinho da PUC, nos arredores do Prado Velho, encabeçará o top. O local tem as mulheres mais bonitas da cidade sem levar o cliente à morte financeira. A liderança no quesito peculiaridades é indiscutível.

Primeiramente, o estabelecimento não tem nenhuma referência externa que diga ser o que é. Nos fundos de um estacionamento, a Deb’s House (para os mais íntimos)assemelha-se muito a um bar americano, com um belo balcão em L, mesinhas confortáveis com cadeiras altas e uma aconchegante churrasqueira ao fundo – se não fosse a predileção das moças locais por música sertaneja, facilmente se passaria por um bom bar de jazz. Abre às duas da tarde, fecha religiosamente às dez da noite e não funciona no sábado. (!)

Exceto por uma e outra mulher de silicone à vista, todo o panorama lembra um bar qualquer da Avenida Batel, com suas mulheres de longos apliques e roupas brilhantes, só que mais barato: a Budweiser long neck sai por oito reais. O que mais surpreende, saindo dos aspectos etílicos, é como as mulheres são instruídas pela reservada Débora a não importunarem os clientes com pedidos de doses e afins. E nem é preciso: como elas são deslumbrantes, a leve presença de cada uma delas no colo dos homens já parece exercer um efeito psicológico considerável. E são muitas. E são lindas.

Converso, por R$ 150, com Fran, de dezenove anos. É certamente a mulher mais linda que eu já vi nua. Nasceu em Curitiba. Aos treze anos mudou-se para o Rio de Janeiro. No ano seguinte casou. Separou aos dezesseis. Desde então, trabalha. Fran é mulher alta, quase 1,80, cabelos castanhos com mechas loiras, seios pequenos, uma tatuagem incrível no quadril. Está resfriada e preocupada. “Não posso ficar doente, senão, quem vai pagar minhas contas?”

Temos trinta minutos. Ela não fala muito alto, é quase introspectiva. Despe-se olhando pra mim, sem nenhuma atuação. Geme sem escândalo, quase fleumática, a respiração acelera um pouco quando é beijada na nuca. Ainda temos cinco minutos. Pergunto se ela gosta de massagens. Nua, totalmente relaxada, aos poucos está quase adormecendo. “Vou descansar um pouco. Só não deixe a porta aberta porque está um vento gelado lá fora, querido.”

 

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