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Como a atual crise que vivemos, que ultrapassa o campo econômico e adentra na moralidade, afeta a produtividade do governo, seja nacional, estadual ou até mesmo municipal?

Nós tínhamos números relativos a aspectos econômicos que mostravam que tudo que se previa para o ano de 2014, o ano da Copa, que estamparia o Brasil para o mundo, não se concretizaria, ainda mais após o Junho de 2013 que mostrou a falta de dever cumprido. Em seguida vieram as eleições e houve uma esperança de melhoria, que atingiríamos um novo patamar, mas o que aconteceu não foi bem isso, logo as rachaduras começaram a aparecer.

Não se imaginava em pleno 2015, tempo em que as informações são muito velozes, que nós não tivéssemos percebido esse cenário fiscal da união e do estado como se presenciou depois que as eleições passaram, mais notadamente de janeiro para cá. Atualmente as conseqüências são gravíssimas, pois as indústrias estavam numa expectativa, desta forma poderiam evitar o desemprego, cortes de verbas e etc.

Hoje a crise já está mais intensa e mais clara em centros que são, sobretudo, industriais, seja automotivo ou metal-mecânico. Interessante observar que isso não atinge o setor de alimentação, pois o Brasil é um celeiro, logo, e aqui vale ressaltar o estado do Paraná, as indústrias do setor alimentício estão contratando, inovando, agregando valor às suas matérias primas básicas. Porém, bens de capital, serviços, setor automotivo, indústria de transformação já estão sentindo mais e demitindo mais, sem falar na questão da construção civil que tem amargado um de seus piores momentos.

O reflexo no setor industrial é que caímos 7,5% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. O cenário não é nada favorável, porém em momentos de crise podemos tirar como lição e tentar fazer ajustes e encontrar algumas saídas. O que me entristece é que o setor produtivo – e aqui não falo só a indústria – não é chamado para o diálogo. Se nós tivéssemos sendo mais ouvidos talvez não estivéssemos em tão maus lençóis. Nós temos gargalos: de infra-estrutura, burocracia – veja os números da burocracia no Brasil, uma empresa gasta mais com burocracia do que com pesquisa e desenvolvimento. Agora eu pergunto, como ela vai se tornar competitiva se ela não consegue fazer investimentos em pessoas, em inovações, em produtos, pois tem que estar em ordem com uma porção de coisas burocráticas. Tomo como exemplo a Coréia, pois basta olhar para os carros na rua. Em seu tempo investiu em educação, pesquisa e desenvolvimento. Esta falta de investimento aqui faz com que percamos terreno em várias áreas.

Contudo, o mais grave é a crise de confiança. As instituições – de modo geral, não só as privadas – deveriam transmitir um bom ambiente. E nesse caso quanto menos o estado atrapalhar melhor é, só que quando além de atrapalhar, ele não dá bons exemplos é o que de mais grave colhemos e o que preocupa é que estamos no início dos nossos executivos – tanto da União, como o do Governo – eles não estão em bons momentos, se entrarmos no detalhe os índices de aceitação das nossas lideranças estão muito aquém. E o pior é que o legislativo não foge disso, aliás, os três poderes estão altamente arranhados. Você não pode dizer que o legislativo está dando bons exemplos quando um presidente da Câmara dos Deputados em acordo com os partidos políticos resolve aumentar a conta destes. Embora para nós esteja sendo uma surpresa o desempenho da Câmara, que apesar de dar este mau exemplo, levantou alguns assuntos polêmicos ao debate, a exemplo da terceirização.

E tem também o judiciário. Temos recentemente dois maus exemplos: um é a questão do auxílio-moradia, que sabia-se que criaria um efeito cascata em outras instâncias; o segundo é a dos desembargadores serem desobrigados de ter a dedução previdenciária.

 

Há estudos referentes à mão de obra que nos coloca entre os piores países em produtividade humana, principalmente entre os emergentes. Você acha que existe uma farsa entre os programas de capacitação da mão de obra?

Enquanto SENAI a gente sofre na carne, especialmente com os jovens. A maior dificuldade entre eles é o português e matemática básicos, pois não há noção nenhuma. Portanto, é necessário um processo de melhoria em seu aprendizado para depois direcionar este estudante para sua capacitação técnica.

Talvez essa disparidade que acontece com os outros países é pela falta de investimento em educação e numa cultura que deveríamos investir mais em máquinas e equipamentos, quer seja automação, eletrônica, etc.

Um dos maiores ativos que as indústrias têm é o capital humano, porque formar mão de obra qualificada num país como o nosso que deixa a desejar é muito difícil – nossos trabalhadores estão muito aquém das nações industrializadas e dos BRICS. Por isso que as indústrias seguram ao máximo um funcionário antes de demiti-lo. Pois, ele será recolocado no mercado de trabalho e a indústria, com a economia se reajustando, não consegue trazê-lo de volta, precisa novamente refazer uma qualificação profissional e isso custa caro até por causa da burocracia, já citada anteriormente.

 

Que mudanças no nosso sistema político e eleitoral você veria como necessárias?

Já começa pelo modelo eleitoral instituído. Hoje os candidatos que concorrem estão pendurados num determinado partido ou por interesses pessoais, de grupo ou de ter acesso a um fundo de campanha mais favorável. Logo, já há de cara duas coisas: não podemos ter um fundo partidário que irá abastecer o partido por causa da sua participação no congresso e nem trinta e poucos partidos.

Confesso que não tenho uma opinião formada se o financiamento público é melhor que o privado ou vice-versa ou ainda se ambos devem caminhar juntos. O que está muito claro é que o atual modelo é uma forma de arrecadar “ilegalmente”, subsidiados pela lei, recursos para o próprio candidato. Muitos deles convencem seus financiadores que o valor determinado é integral para a campanha, mas nem sempre é o que acontece, os próprios candidatos se beneficiam desta verba para outras atividades, possivelmente pessoais. Então este modelo, a princípio, não está atendendo o interesse da população de modo geral.

Outra questão é a reeleição. Talvez quatro anos não seja um tempo ideal para uma gestão, mas um modelo de cinco, quem sabe seis anos, sem reeleição seria mais viável. E eleição ano sim ano não também não funciona, pois o governante mal assume o mandato e tem que se preocupar com suas bases.

Além disso, há o caso da Justiça Eleitoral. Eu não consigo admitir que uma cidade como a minha de 18 mil habitantes, haja um prédio público construído com o nosso dinheiro para uma justiça eleitoral. É uma bela construção arquitetônica, recheada de servidores e agentes públicos, equipamentos, materiais. Tudo isso para um advento de uma eleição a cada dois anos que não possui justificativa alguma para que exista um organismo exclusivo.

A mesma justiça que nos serve tem que ser instalada como justiça eleitoral com pessoas específicas designadas no tempo certo, alguns inclusive podem ser até voluntários, como é o caso dos mesários.

 

Qual o grande desafio numa reforma política caso ela venha a ser feita?

Meu observatório social terminou recentemente um trabalho relevante, visitou o Paraná inteiro no setor “exportadores do futuro” onde nós detectamos quais são as potencialidades regionais.

Com este estudo, o investidor, quer seja do Paraná, quer seja do exterior, que queira fazer qualquer tipo de investimento sabe exatamente onde irá encontrar facilidades de infra-estrutura, logística, benefícios tributários e fiscais de determinada região.

E agora eu pedi a eles um estudo do que poderia ser um modelo ideal para uma reforma política no Brasil. Por isso, solicitei que tropicalizassem modelos que podemos tomar como exemplo. O que poderia funcionar do exemplo americano, ou alemão, ou inglês? Qual seria o melhor modelo? Assim que concluído este trabalho, imagino que isso ocorra em meados de junho, pretendo abrir um diálogo com a sociedade organizada, não só dos setores produtivos, mas a academia, profissionais de imprensa, etc. Isso se mostra muito importante porque o que nós, do setor industrial, estamos pensando, não é o que os políticos estão pensando, só que o que eles pensam já se percebeu que está esgotado. Isso mostra o principal problema do Brasil, o fechar-se dentro dos muros, fechar-se dentro dos palácios, fechar cada qual em seu ambiente e não dialogar com a sociedade o que pode ser melhor.

Não dá para admitir que um prefeito tenha que ir a Brasília quatro, cinco vezes por ano para buscar uma verba que foi gerada na sua cidade e quando consegue essa liberação ela percorre um caminho de volta onde passa pelos vícios.

Uma reforma fiscal e um modelo de orçamento da União não podem privilegiar esse modelo que o prefeito tenha que ir até Brasília buscar sua verba. Quem tem que decidir onde o recurso gerado pela cidade será investido tem que ser a população local, por isso que a Câmara de Vereadores tem papel fundamental.

Inclusive fui criticado por uma crítica que fiz, disse que os vereadores não deveriam ter salários, apenas indenizações. Aí disseram que eu queria acabar com a Câmara de Vereadores, absolutamente. Acredito que deveria mudar a sua configuração, isso implica o que: a Câmara tem que ter vários departamentos que atendam todos os vereadores e não cada um ter seus advogados, especialista em direito tributário, especialista em urbanismo, etc., etc.

O desafio hoje numa reforma política é que ela venha a ser dialogada com a sociedade.

 

Charles Chaplin no clássico “Tempos modernos”, de 1936, já criticava a relação entre o “capitalista” e o “proletariado”, como se um vestisse a farda de explorador e outro acatasse ordens como explorado. Como o senhor encara esta secular “disputa” entre o empresário e seu funcionário? E que consequências isso gera?

Já de início não podemos admitir que em cada região haja uma justiça do trabalho. Quer dizer, há um movimento de conflito de capital e de trabalho. Então criou-se uma animosidade entre eles, há um estímulo a busca da Justiça do Trabalho (veja o modelo americano: o que interessa ao trabalhador americano é a sua hora trabalhada, vai por o dinheiro no bolso e faz o que bem entender).

Será que nós precisamos de um trabalhador no Brasil que ganhe mil reais custando para empresa outros 1500, 1800 reais? O nosso empreendedor é um herói, porque ele tem que superar todas essas dificuldades e ainda assim o funcionário acha que está sendo explorado, tudo isso é por causa da questão da animosidade entre capital e trabalho, sendo que é uma relação de ganha-ganha, cada qual cumpre seu papel. O empreendedor seria pouco ou nada sem o seu funcionário e vice-versa. E quando essa relação é semeada por incertezas cria-se um movimento maluco que é o que ocorre hoje na Justiça do Trabalho.

 

O Brasil possui uma das mais altas taxações de impostos, porém não reverte isso para a população, e agora com a atual crise o cenário está piorando. Aumentar os impostos nos mais variados setores é uma solução para sair da crise?

O atual padrão instituído só procura mais mecanismos para que nós destinemos recursos que já estão se exaurindo, pois veja só, até final do ano passado nós tínhamos quase 40 % do PIB destinados para arrecadação de impostos, agora com os municípios, estados e a união elevando suas alíquotas talvez devamos encerrar 2015 com 42% ou 43%, é possível que chegue até 44%. É quase metade destinado a imposto.

Vamos supor que eu venda celular e que custe mil reais o meu produto. Se eu tenho uma carga tributária que ultrapassa 40% daquilo que eu produzo inevitavelmente minha empresa não será produtiva, pois o mundo é globalizado. O mesmo celular que eu vendo, o Paraguai vende, os Estados Unidos vende, a China vende e a Índia vende. Quando o cliente, que não é bobo, for comprar, vai pesquisar o mercado. O meu custa mil, o da China 500, o exemplo é hipotético, mas isso já é um fato.

Estamos entrando numa ciranda que achamos que aumentando a tributação iremos arrecadar mais, o que é ilusório. O que acontece com a tributação alta é dificultar a capacidade da economia se reestruturar e se reerguer. O ambiente para o empreendedor no Brasil tende a se exaurir.

 

Aqui no Paraná tivemos um ajuste fiscal rigoroso, como que ele interfere na vida produtiva do estado?

Ainda é cedo para afirmar após os recentes aumentos da alíquota do ICMS, pois ele entrou em vigor em 1° de abril, então não dá para ter uma real noção do impacto. Não dá para saber se as vendas vão reduzir, se os produtos daqui do estado vão ter perda de competitividade em relação com outros estados ou até mesmo os importados, embora tenha algumas questões que acabam influenciando todos, pois o imposto que sobe aqui também sobe para os de fora, mas nada impede que no caso das compras, o consumidor busque a eletrônica em detrimento da física, de ponto a ponto, que ele está habituado a fazer.

Mas os ajustes trouxeram um impacto desde o ano passado, pois o governo naquele período afirmou ao setor industrial que quem já havia conseguido os incentivos fiscais não os perderia – e a promessa está sendo cumprida. Isso já mostrava que um bom período não estava por vir, além do mais há outro fator: os fornecedores destas indústrias não detinham esses benefícios fiscais e esta ausência fez com que os preços da matéria prima ou qualquer outro material que as indústrias necessitassem subissem, deixando a produção mais cara. Consequentemente o produto final fica mais caro e a indústria perde competitividade.

 

A política recente de estímulo ao consumo em vez de estímulo a produção foi o grande equívoco para enfrentar a crise?

Talvez naquele momento fosse adequado. Pois se lembrarmos, o crédito não era acessível para os setores da construção civil e automotivo. Então para estimular a economia adotou-se esse modelo. O erro foi que não houve ajuste. Tinha que ter preparado a indústria nacional, isso implica também uma qualidade de logística, com os portos, para que o produto nacional pudesse alcançar o mercado.




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