FOTOS DE:

03.09.15
A união soviética através da câmera
Dico Kremer

Seis talentosos fotógrafos da finada União Soviética, hoje Rússia, expõem suas obras no MON até o dia 25 de outubro. Com a curadoria de Luiz Gustavo Carvalho e Maria Vragova cinco russos, Vladimir Lagrange, Leonid Lazarev, Yuri Krivonossov, Viktor Akhlomov, Vladimir Bogdanov e o lituano Antanas Sutkus mostram com o seu trabalho aspectos da vida na União Soviética entre 1956 e 1991. Reproduzo o excelente texto que Luiz Gustavo Carvalho escreveu para o folheto editado pelo MON e que está à disposição dos visitantes.
“O ano de 1956 foi marcado por dois acontecimentos bastante contraditórios na antiga União Soviética: Nikita Krushchev denunciou os crimes cometidos por Josef Stalin, e as tropas soviéticas invadiram a Hungria. O primeiro foi de importância fundamental para a produção artística no país, pois a relativa liberdade que floresceu a partir deste episódio, conhecido como “Discurso Secreto”, permitiu que fotógrafos e fotojornalistas reformulassem o papel da fotografia na sociedade. Esta técnica deixava de ser uma mera ferramenta ideológica e adquiria uma nova estética, resgatando técnicas que remontavam ao movimento de vanguarda dos anos 1920.
Através do olhar de seis fotógrafos diferentes, a exposição “A União Soviética através da câmera” propõe uma reflexão sobre a vida cotidiana deste “país fantasma”, do Degelo de Krushchev à Perestroika de Gorbatchev, assim como sobre o papel singular exercido pela fotografia na sociedade soviética pós-Stalinista.
Marcadas pelo desejo de construir identidades visuais e narrativas históricas, nos quais o público se identificasse como parte dessa realidade, fosse ela real ou imaginária, as imagens de Viktor Akhlomov, Yuri Krivonossov, Antanas Sutkus, Vladimir Lagrange, Leonid Lazarev e Vladimir Bogdanov conseguem unir com maestria os lados tão opostos que formavam a realidade cotidiana desta sociedade: de um lado o mito soviético sobre o futuro radioso, e, de outro, as condições desumanas da luta pela sobrevivência. Desta forma, ao lado da influência de Alexander Rodchenko e Boris Ignatovitch, visível na construção e composição da imagem, assim como na relação com a luminosidade, pode-se traçar um paralelo entre a fotografia soviética pós-Stalinista e a fotografia humanista francesa.
Evocando temas de extrema importância para a compreensão da sociedade soviética e evitando uma narrativa política, a presente coleção penetra o fino espaço deixado para a interpretação pessoal pela censura soviética. A complexa paleta de nuances no olhar de cada fotógrafo vai do humor perspicaz de Vladimir Lagrange e Viktor Akhlomov à subversão visual das obras de Antanas Sutkus ou ao sarcasmo profético de algumas imagens de Vladimir Bogdanov. No entanto, é somente devido à preocupação destes artistas com o Homem, ou com o que restou do Homem, que este capítulo da fotografia soviética consegue transgredir qualquer fronteira imposta por contextos políticos e períodos históricos, tornando-se universal e atemporal.”
Todos aqueles que gostam de fotografia e que se interessam pela documentação fotográfica vistas por olhos daqueles que, naquele instante brevíssimo da abertura do obturador da câmera, conseguem transmitir visualmente a emoção da vida humana sendo vivida nos seus mais amplos e variados aspectos não podem perder esta amostra.



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