Ela é chique, ela é culta, ela é cult

Gosto de rua, da rua;
sou homem de rua, da rua.
Sempre fui.
Desde menino, piá, em Irati.
Que decorei, que sei de cor, salteado,
de trás pra frente, na ordem, às escuras;
no início da década de 60 a cidade racionava luz,
o que não me impedia de andar por ela
madrugada a dentro na companhia do Mirzinho
a dedilhar no seu violão as canções
que o João Gilberto recriara
em CHEGA DE SAUDADE.
Sou homem de rua, da rua;
Gosto de andar por ela, por elas. Ir&voltar&voltar&ver
&observar&anotar&escrever&divulgar&propagandear&elogiar
&criticar&falar bem&falar mal&não falar&ficar de bem
&ficar de mal&não ficar.
Sou homem de rua, da rua;
Gosto de andar por ela, por elas,
Sozinho, acompanhado, bem acompanhado,
mal acompanhado, não acompanhado,
solitariamente, solidariamente, solidamente,
detidamente, minuciosamente, conscienciosamente,
conscientemente, ao léu, ao deus dará,
seja o que deus quiser,
com pauta,
ad libito,
formalmente,
desmazeladamente,
como turista,
como viajante,
como amante,
nunca como marido, esposo, cônjuge, “pai”.
Ah!
A rua, as ruas, as suas, as nossas ruas, as minhas ruas.
A Prudente de Moraes, por exemplo.
Entre a Manoel Ribas e a Carlos de Carvalho.
Aleluia.
Como deve ser,
ela começa no alto,
na Manoel Ribas,
Praticamente sai do glorioso boteco,
Botafogo,
E entra na vida,
na história.
Como o Vargas do testamento.
Como deve ser,
Ela desce...
E com ela o trânsito,
O tráfego,
O tráfico,
Os trêfegos,
Os trânsfugas,
Os transitórios,
Os em trânsito,
Os tranzidos,
Os trouxas,
Os trastes,
Os tristes,
Os tétricos,
Os.
Desci.
Desçamos.
Não;
Relaxe;
Não farei o inventário da
Prudente de Moraes;
Não o submeterei a tão rude prova.
Apenas uns toques.
Cadeira na posição vertical,
Aperte o cinto,
Atenção aos sinais luminosos,
Olha a pista chegando.
E vamos nós.
Antes, notinha;
Paulista de Itu
Prudente foi o primeiro civil presidente da república
E o primeiro eleito pelo voto direto em 1894;
Enfrentou a barra
Da “revolução federalista” no Rio Grande do Sul.
Morreu em Piracicaba em 1902.
Tinha pouco mais de 50 anos.
Vamos à rua.
Ou melhor,
À alameda,
Pois a PM,
Acredite,
Não é rua,
É alameda
Como a doutor Muricy.
Onde morei,
Envelheci,
envileci.
Em mil e tantos metros ela tem 13 quadras.
Conferi.
Quase todas ilustres.
As minhas preferidas são
As das gloriosas travessas
Dos Editores e Monteiro Lobato.
E a última.
Que desemboca e finda na
Carlos de Carvalho.
Com uma ou outra exceção
Tudo o que é digno de registro
Fica do lado esquerdo de quem desce.
Como o singular edifício que atende pelo nome Prudente
À frente dos fundos do Festval.
Ou o rol de sinistras árvores da padre Anchieta,
Location para filmes de terrhor com Vincent Price.
Ou o TUN FANG.
Restaurante chinês, caro Watson,
Como o ALMA LUSA é português
E a
Óptica Ocular, ótica.
Sem esquecer o belo nome Brasero.
E o nem tão belo nem tão faceiro tipo que cuida dos
Assim chamados veículos automotores na
Quadra que antecede à minha amada
ALIANÇA FRANCESA,
ALLIENCE FRANÇAISE.
Ele atende pelo típico Uelton...
E chegamos ao ponto,
Ao point.
A partir da ALLIENCE,
Com a ALLIENCE,
A Prudente
CIVILIZA-SE!
Fica bonita,
Charmosa,
Gostosa,
Sexy.
E culta.
E leve.
E solta.
Pronta para nos servir,
Para atender nossas necessidades
De conforto,
Decoro,
Décor,
De cor,
De assento&asseio,
De cultura,
De cama, mesa&banho,
De comida&bebida.
De livros.
Sim, de livros.
Na elegante, na discreta
LIVRARIA DANÚBIO.
Onde você pode entrar, sentar, tomar belo café,
ler, escrever, conversar,
ao fundo musical de jazz ou piazzola ou BACH.
Você quer mais?
Ou menos?
(Isto não é poesia, é um texto desalinhado)