DAVID LINCH E O TORPOR

Na dura-mater: o ponto negro e os sonâmbulos catatônicos
Há muito tempo sua estrada perdida (The Lost Highway) pavimentada com seus delírios estrambóticos, não conduz à Oz mas somente ao vácuo, ao nada.
Um niilismo pueril impregna seus passos à custa de pés descalços e poeirentos. Afinal, seu alter ego (Dale Cooper), padece atualmente da síndrome de Cinderela. Lynch vive balbuciando: “Me sei inteligente, me sei inteligente…”
Mas, afinal, o que é a inteligência? Entre outras coisas cabe à inteligência descobrir uma relação ou nexo lógico entre dois fenômenos, algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber, e não uma descarga de emoções, uma manifestação de agressividade, um insulto, um soco, que não teriam qualquer valor artístico. Inteligência não tem nada a ver com irracionalidade.
Gênios inteligentes da cinematografia (para quem começa a engatinhar) foram Orson Welles, Alain Resnais, Luis Buñuel, o belga Harry Kumel, entre outros.
Um homem imaginativo, antes de mais nada, percebe as relações íntimas e os segredos das coisas, as correspondências e as analogias.
De uma das paredes de um cenário em “Twin Peaks” pende uma imagem de Kafka… Referência ao estilo onírico de Kafka?
A melhor maneira de ler Kafka é converter-se num sonâmbulo. A melhor maneira de ler Lynch é converter-se num dormente de madeira.
O alto precipício em “Twin Peaks” é a alma do homem enfrentado com o nada de sua existência. Mas Lynch insiste no estranho, no esquisito, no ridículo. É um homem profundamente doente, não um poeta. Sofre de uma inundação de espíritos maus na parte esquerda do cérebro – está mais para cadáveres esquisitos.
É um ser construído com a argila da contradição, mas também com o ar vão de seus projetos e de seus desejos. Sua mente é fechada por baixo, e por vezes retorcida como em espiral em sentido inverso. Tem a cabeça para baixo e as pernas para cima!
O ouro da beleza se converte entre suas mãos na cinza dos complexos mais repulsivos.
O verdadeiro artista inteligente deve resolver de uma maneira simbólica seus problemas pessoais, com a panaceia da arte e não em forma de sintomas neuróticos ou de sonhos, como acontece com aquele não inspirado pelos deuses!
“O domínio não consiste em sonhos anormais, em visões, em vida e imaginações fantásticas, mas sim no emprego das forças superiores contra as inferiores, escapando assim das penas dos planos inferiores pela vibração nos superiores”.
A transmutação não é uma denegação presunçosa, é a arma ofensiva do mestre.
Para concluir: não tentem ser Champolions desta linguagem obscura. Não há nada a ser decifrado neste retorno à “Twin Peaks”! Somente Nyssia, a rainha da Lídia, tinha uma pupila dupla, que lhe possibilitava ver através das paredes!
“O sono da razão produz monstros.” – Francisco José de Goya y Lucientes.