Editorial. Ed. 195
Este ano que começou com um calor insuportável e um calendário que quase o anula para o trabalho, foi inaugurado em alta voltagem e com sinais muito claros de que a disputa eleitoral vai exigir paciência e engov.
Há um angustiado sentimento de desconforto na sociedade brasileira. Os governantes perderam a credibilidade, tantos são os escândalos de corrupção que parecem não ter fim. A maioria absoluta dos brasileiros não quer saber de política. E a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos.
No momento, a pesquisa mais recente registra que nada menos que 56% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse nas eleições de outubro. O fato de que 37% dos pesquisados optaram por “nulo ou em branco” ou “não sabe” mostra que boa parte dos desinteressados escolheu a resposta mais condizente com seu estado de espírito no momento.
Não é provável que esse número se sustente nas eleições, embora possa ser maior do que o registrado em anos anteriores, pelo aumento da frustração do eleitorado com a política, os políticos e as instituições da política.
Os eleitores que estão deixando, com certa regularidade, de escolher o nome da presidente Dilma nas pesquisas dos últimos dias devem acabar optando por um dos nomes da oposição, caso o governo não consiga reverter a tendência de descrédito que no momento o atinge.
Os especialistas dizem que o movimento mais habitual dos eleitores desiludidos é fazer uma parada nos indecisos (ou branco ou nulo) para depois escolher a melhor alternativa. Os candidatos, os de sempre, ainda têm longo período para serem conhecidos pelos eleitores, e para eles o programa eleitoral na televisão antes da campanha pode ser a bala de prata. É a esperança, por exemplo, de Requião, que aposta tudo no porrete nos adversários durante o horário gratuito.
E o futuro não é risonho com qualquer dos candidatos que venha a ser eleito. O partido do futuro presidente terá, no máximo, um quinto da Câmara (100) e um quarto do Senado (20). O governo será de coalizão. Para que ele tenha um mínimo de estabilidade, vai precisar do apoio do partido âncora, o PMDB. Ou seja, tudo deverá ficar como está, com poucos atores novos.
A base parlamentar do futuro presidente será heterogênea. O partido do presidente, como fez o PSDB no governo FHC, como agiu o PT na gestão Lula, como se comportou na administração Dilma ou de Michel Temer, vai tentar limpar sua imagem às custas de enxovalhar o PMDB. E tudo deverá continuar sob as ordens de Renan, Sarney, Collor de Mello et caterva. Por que então devemos acreditar na política segundo as regras que fazem perdurar essa situação?