A invenção do mar, com seus cavalos

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No palácio do mar, azul e verde,
construído de líquenes e búzios,
há crinas de cavalos feitos ondas
em relinchos de prata e solidão,
e há gritos de gaivotas transformados
em vento agreste. E a rude maresia
sopra o salgado hálito na praia
de areias repousando sob o sol
caindo a prumo como guilhotina
implacável, por sobre a transparência
do dia intenso, enorme, inverossímil.
(Antes que a noite chegue, negra sela,
para cobrir os líquidos cavalos
insones galopando verdemente),
2
São cavalos fantásticos. Devoram,
em perpétuos e cíclicos galopes
dentro do vasto hipódromo da noite,
quilômetros de tempo, anos de espaço.
Nada detém o seu galope insano
e os seus dorsos azuis ou quase verdes
vibram, ondulam, ora docemente
e logo numa fúria sonorosa.
São cavalos estranhos cujo mágico
galope faz lembrar não sei que antiga
marcha de legiões rumo às Termópilas.
E as suas bocas são espuma e algas
e as suas patas líquidas escavam
a areia pura. Eternamente escavam.