Sérgio Sant’Anna, renovador do conto, morre aos 78 vítima do coronavírus

Folha de S. Paulo
O escritor carioca Sérgio Sant’Anna, um dos maiores autores em atividade no país, morreu na madrugada deste domingo, aos 78 anos, em decorrência da Covid-19. Ele estava internado desde o domingo (3), no hospital Quinta D’Or, no Rio de Janeiro.
De acordo com seu filho, o também escritor André Sant’Anna, o pai vinha melhorando e saindo da sedação —mas teve uma parada cardíaca nesta madrugada.
Conhecido pela experimentação formal, ele transitou e foi elogiado por seu trabalho em diversos gêneros, mas era celebrado principalmente como um dos grandes nomes do conto brasileiro —ao lado de Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.
No ano passado, ele, que era advogado de formação, completou 50 anos de carreira literária. Sua estreia foi em 1969, com o livro “O Sobrevivente”, uma edição do autor paga com dinheiro emprestado de seu pai. Com a obra, ganhou uma bolsa em um programa da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, voltado para escritores.
Dentro das experimentações promovidas por San’Anna, estava o diálogo com outros campos, como as artes plásticas, o teatro, o cinema —além de promover a mistura de gêneros literários. Entre seus livros mais famosos, estavam obras como “Confissões de Ralfo”, “Um Crime Delicado, “O Concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro” e “O Homem-Mulher”, entre outros. Sua obra é publicada pela Companhia das Letras.
Torcedor do fluminense, escreveu também histórias sobre o futebol —caso de um de seus últimos contos, publicado na Ilustríssima, no qual narra o treino do time a partir do ponto de vista de uma velha trave.
Também era conhecido por ler assiduamente autores de novas gerações —e, recentemente, comentar suas leituras no Facebook—, além de manter o diálogo com eles. Essa postura foi simbolizada na Flip de 2018, quando o mestre dividiu uma mesa com o escritor Gustavo Pacheco, que estreava com o volume de contos “Alguns Humanos”.
No debate, Sant’Anna chegou a lançar uma provocação: “Não tenho tempo de ler esses livros todos. Tenho a opinião de que no Brasil está se escrevendo demais. O Brasil tem que ter mais leitores em menos escritores”.
O autor também arrancou risos da plateia ao contar que optou por ser contista e não romancista porque se angustia ao escrever —e que, por isso, não seria bom escrever algo mais longo.